segunda-feira, 29 de setembro de 2014

subversiva: Joe, ninfo incapaz de amar

Por que Ninfomaníaca, Lars Von Trier pode ser tão desagradável pra muita gente?




Joe e as estocadas
É essa sua primeira experiência sexual com um homem. Joe começa a se construir pela falta, pela ausência de prazer. Pela brutalidade e pelo vazio do corpo. Quem em nossa cultura está acostumado com a visão de uma mulher que não grita, não uiva de prazer, graças ao incrível e poderoso falo? Joe interrompe o grito pelo silêncio.

Joe dá pra quem quiser
É ela quem decide para quem e quando. E pelos inúmeros pênis com os quais opera sua jornada sexual dia após dia, Joe mantem-se implacável e intocada – ninguém jamais conseguiu penetrar Joe.



Joe mente
Em cenas carregadas de ironia, Joe mente para cada um dos homens o quanto eles a haviam satisfeito e apresentado a ela o prazer supremo. Joe joga na cara o mal-estar social da mulher que finge orgasmo.



Joe é incapaz de amar
Eliane Brum escreveu pro El país, Joe se deixa penetrar justamente para mostrar que não pode ser penetrada, preenchida. Sua existência estilhaça, para homens e mulheres, a ausência inúmeras vezes experimentada em relações completamente vazias com o corpo, com o sexo, com o outro e consigo.




Uma mulher urina em Joe
Ela precisa ser humilhada por todos, afinal, como pode uma mulher ser tão insensível ao amor de um homem, a um filho, ao sexo? Só mesmo uma outra mulher pode colocar Joe no seu lugar - no chão.

Joe pode decidir sobre seu corpo
Ela atira no homem que pensou poder tomá-la de vez. Mesmo suja, humilhada, mulher que dá pra qualquer um, o poder de escolha ainda é dela. Joe atira no olho de quem pensou que ninfomaníaca fosse um filme erótico e excitante. Sua suposta vulnerabilidade criada por meio das confissões produz o julgamento assassino do espectador, que pensou saber tudo sobre ela, que pensou dominá-la. 




Joe é subversiva. Toda mulher é um pouco Joe.  


by Raquel Leão

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