segunda-feira, 6 de outubro de 2014

a vitória da regressão

Essa semana começa com uma ressaca social. Os senadores, deputados, governadores e o segundo turno presidencial dizem muita coisa sobre o país.

A norma impera. A norma que criminaliza minorias ganhou maioria de votos em muitos estados do Brasil. Ganharam os cidadãos de bem, a família branca tradicional, a novela, a Rede Globo.


As pessoas votaram pensando em si mesmas, pensando na manutenção de um mundo violento para os gays, pobres, índios e negros. Ah, e para as mulheres também.

Uma série de elementos imagéticos podem entrar em jogo quando analisamos uma situação dessas. Todas as imagens são construídas, questionarmos a verdade não nos traz resposta nunca. Analisemos, portanto, as imagens que ganharam (ou ainda podem ganhar) as eleições. 


Lasier Martins e a namorada caminham de branco pela praia com um arco-íris ao fundo. Imagem da riqueza, beleza, leveza, felicidade, amor. Tudo que queremos em um candidato.


Aécio Neves esbanja simpatia no seu sorriso, carregando no colo os gêmeos prematuros, ao lado de sua linda e loira esposa. O comprometimento com a família está garantido. Ele é o marido que toda boa mulher deseja.


Empurrãozinho e tapinha de vez em quando nos colocam no lugar mesmo. Alguma coisa essa mulher fez pra apanhar de tão distinto homem.


Jair Bolsonaro com seus dois filhos. O orgulho está estampado em seus rostos. Eles estão de férias, em uma linda praia onde se divertem juntos pescando e posando para uma foto com a caça do dia. Os três homens que provêm para a família, o conhecimento que passa de geração para geração. Os machos que toda mulher deseja.


Porque imagem também é texto e este é bem significativo. Contra tudo o que afronta uma norma violentamente construída, temos Luís Carlos Heinze.


Nós somos o nosso voto. Compreendo assim que o Brasil se mostra, em sua maioria, avesso às mudanças, às diferenças, à quebra do normativo. Por isso esse é um assunto de um blog feminista, porque é contra esse medo do diferente que falamos aqui. O conservadorismo venceu em meio a tantas manifestações bonitas, a tantos textos inspiradores, a tanta poesia, a tanta gente disposta a lutar. 

Dia triste e violento pra quem não é parte de uma familinha lindamente normativa e opressora, que é super pra frente, cheia de dinheiro (porque trabalhou!) e energia, loiro, branco, ama futebol, come churrasco, é hetero, magro, mulher submissa ou homem machão, tem medo do comunismo, adora fazer compras em Miami, assiste The Voice, diz que o Brasil é uma merda, preserva a natureza não pisando na grama do condomínio.




No fim das contas, quem ganhou foi a TV.

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