quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

um certo professor de cursinho, parte 1

Desde que me tornei professora, observo entre um certo tipo de professores, que atuam com adolescentes ou jovens-adultos, uma atitude nojenta de assédio sexual e abuso moral de alunas. Com isso não quero afirmar que todos os professores homens são abusadores de colegiais, longe disso! Mas um fato é certo: ser professor, para muitos homens, garante um certo tipo de relação de poder sustentada em instituições de ensino. Não se trata da violência física, é parte de um jogo escroto baseado na fantasia da ninfeta estudantil. 

Esse tipo de imagem da mulher é o que aparece no google quando se escreve a palavra "colegial". É uma fantasia, faz parte do imaginário criado pelo machismo.

Ele é o centro, é o cara que está te preparando para o vestibular; é o professor do cursinho que faz as piadinhas machistas e reconta os livros de literatura inserindo seus preconceitos; ele é o cara que decorou meia dúzia de frases da wikipedia e que as aluninhas anotam, acham incrível; ele é aquele que elas acham gatinho; ele é o mesmo que não consegue se relacionar com qualquer mulher fora da instituição de ensino, afinal ele é fraco e inseguro. Ele precisa das adolescentes pra se afirmar como homem. 

Já ouvi relatos de um amigo professor sobre seus colegas competirem em cursinhos para ver quem "pega" mais alunas ao longo do ano. Já ouvi que até troféu para o  grande "comedor" os professores machões ganham. A verdade é que há muitos professores homens que abusam do seu poder olhando para o corpo de adolescentes, tecendo comentários com seus amigos sobre como a aluna X é gostosa, como vai dar trabalho para os pais ou sobre como ela já "parece um mulherão". Isso é abuso. Isso é igual a estupro.

Até a Kelly Key já sabia que isso era caô nos anos 2000

Obviamente esse tipo de situação é muito mais recorrente em ambientes em que o machismo reina. O curso pré-vestibular, por exemplo, é um prato cheio para esse tipo de violência. O professor jovem e sexualmente inseguro domina a voz e detém toda a atenção pra ele nas aulas. Isso porque, em cursinhos privados não existe um projeto educativo. E se não há projeto de educação, a aula também não é uma aula. É uma palestra. Um fala - o engraçadão - e 300 escutam. Entre eles, jovens meninas que embarcam num joguinho de disputa pela atenção do professor. As meninas logo reconhecem o que esse tipo de professor deseja. E aí entra o machismo: uma das poucas formas de participar nessa interação é sendo a menina gostosa que quer ser vista pelo professor. 


"Maria apagador" é a expressão usada pelos professores machistas pra se referirem às aluninhas que entram no jogo. Eles a adicionam no facebook, atendem suas chamadas no momento certo. Elas pedem aulas particulares. E pimba! Mais uma que o superprofessor "comeu". E assim segue a trajetória do ovelheiro inseguro. 

O abuso dos professores sobre Lolitas é uma forma de estupro. É um estupro simbólico. E é estupro porque utiliza o poder de uma posição privilegiada (ser homem) pra suprir a baixa auto-estima e a necessidade de dominar o feminino. É estupro porque é mais fácil inventar um vínculo com uma menina em formação, constituindo sua identidade. É consentido socialmente porque é parte do papo na hora do cafezinho, das piadinhas, dos comentários em voz baixa entre homens. 

No mundo da macholândia, se esses pseudoprofessores pudessem fazer alguma coisa com a aluna, no canto da sala, não haveria aula. No mundo da macholândia ninguém passaria impune.

P.S - Relembramos aqui que nós, escritoras deste blog, somos professoras e com isso conhecemos uma infinidade de tipos de professores. Éticos e não éticos. O texto se refere a uma parcela específica desta profissão que temos visto, presenciado e sentido que precisa ser exposta e debatida.

27 comentários:

  1. Respostas
    1. Argumentos pouco profundos, carregados de vitimismo (sei que algumas pessoas odeiam essa palavra, mas não consegui palavra diferente pra definir o que aparenta).

      Como se a mulher não tivesse altivez o suficiente pra dizer "não". Se há chantagem por notas, por exemplo, a mesma tem de denuncia-lo. Se não há e a aluna inclusive é maior de idade ainda assim há um problema ético, fato. Mas não vi motivo pra esse texto tão raso.

      1- "O abuso dos professores sobre Lolitas é uma forma de estupro" Sério isso? Uma simples busca no google imagens revela um monte de fantasias sexuais femininas (garçon, médico, policial, bombeiro, caubói etc ) e eu não vejo problema algum nisso. Fantasias fazem parte do imaginário, e até renovam laços de um casal no que tange a sair da rotina em um relacionamento. E se é em consenso pelos dois resta o problema ético, agora, estupro!? Sério?

      Dada a situação então vamos a outras profissões: Motoristas "estupram" cobradoras / Médicos "estupram" enfermeiras / Chefes "estupram" secretárias/ Fotógrafos "estupram" modelos / Advogados "estupram" suas secretárias ou assistentes etc / Pilotos "estupram" as aeromoças / Maestros "estupram" musicistas. É esse o raciocínio? Onde houver uma "relação de poder" há um estupro? Mesmo que sendo a mulher maior de idade, muitas das vezes já bem adulta!

      Conheço casais hoje casadas com família etc que um dia tiveram nestas posições. Não só professor. Então por esta linha de raciocínio estas famílias foram "frutos de uma forma de estupro" ?

      Passar bem.

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  2. Então professor transar com aluna é estupro mesmo ela sendo maior de idade? Cadê a liberdade sexual feminina? E qual o problema do homem inseguro?

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    1. Fabrízio, estamos falando aqui de um conceito um pouco mais amplo de estupro, não só aquele que se refere ao ato sexual sem consentimento.
      Mesmo a aluna sendo maior de idade e aceitando o sexo, não quer dizer que a relação de poder entre professor e aluna não exista. Tem várias partes do texto que explicam como funciona esse encantamento da aluna pelo professor.
      Tu é professor? Se fosse saberia que é muito fácil seduzir alunas pelo posição que ocupas. O professor é detentor do saber, é inteligente, intrigante, autoridade... Uma série de coisas que existem no jogo de sedução doentia entre professor e aluna.
      O homem inseguro citado no texto é aquele que percebe que dentro da sala de aula ele tem o poder que talvez quisesse ter fora dela. Esse cara inseguro é o que vai aproveitar o seu poder sobre as alunas para talvez compensar frustrações e inseguranças e também medo de mulheres mais velhas e já formadas na vida. É muito mais fácil lidar com uma menina inocente e com pouco conhecimento de vida que vai te achar o cara mais incrível, do que ter um relacionamento com alguém da tua idade que carrega uma mala de problemas já.

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    2. Resposta excelente, Ananda. Obrigada por deixar esse assunto ainda mais esclarecido para os leitores desse blog.

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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    4. Assim como é mais fácil seduzir com carro e sendo bem sucedido. Assim como é mais fácil seduzir tendo um corpo bonito, estando bem vestida e maquiada. Sei lá, creio que o foco deveria ser no fato de eventualmente desrespeitarem as alunas. E não sou professor e sim um mero estudante.

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  3. É justamente sobre uma violência simbólica que não se concretiza necessariamente em ato de que estamos falando no texto, Fabrízio. Essa é uma relação de poder bastante complexa. A relação que abordamos aqui não é generalizante, claro. Esse professor/homem inseguro muitas vezes busca, pela posição que ocupa, construir interações de subordinação ou em que a admiração de meninas ainda em formação seja a única possibilidade de se relacionar com alguém. Além disso, o tema da "liberdade sexual feminina", que tu citaste, também dá o que falar. Logo vamos escrever um texto só pra isso. Porque não necessariamente escolher fazer sexo com qualquer pessoa implica num ato de liberdade. Enfim, vamos discutir isso mais. Obrigada pela participação no blog!

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  4. Excelente texto. É incrível como a figura/fetiche de professor/aluna é extensa. Eles usam esse poder para dominar na sala de aula. Essa disputa com outros professores são tão claras que é assustador. Eles ficam naquela, "vou pegar, vou pegar, peguei!"e quando realizam esse desejo, simplesmente transformam as alunas em objetos e descartam. Claro, que na maioria das vezes há a consensualidade, mas isso não entra em questão. É a busca pelo que é proibido que atiça esse envolvimento.

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  5. Boa discussão. Acredito que, esse tipo de situação ocorre em todos os períodos. Presenciei situações como as descrita no texto, no Ensino Médio, em cursos Pré Vestibulares e também já dentro da faculdade. Ouvi diversas vezes, professores fazendo aposta para ver quem pega mais durante o semestre. Uma certa vez, encontrava-me na praça de alimentação da faculdade, e um professor sentou ao meu lado, até aí achei tranquilo. Tomei o café e ele conversando sobre as aulas, um dado momento ele me perguntou qual semestre eu estudava, e quando respondi, ele falou: "Huumm, então é por isso que voce ainda não passou pela minha mão". Na hora, tomei um susto e dei aquela risada constrangida e me pedi licença para me retirar. Fiquei assustada com essa abordagem, que acredito eu, ser um tanto capciosa. Vale ressaltar que na época eu tinha apenas 19 anos.
    Exemplos como esse, servem para mostrar que sim, o machismo é predominante em todos os ambientes e a relação de poder desenvolvida entre professor e aluno, transcende a sala de aula

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    1. Obrigada pela leitura e participação no blog! Teu relato é muito importante! Um abraço! :)

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  6. Achei o máximo esse texto.
    São aspectos que a gente, talvez, nunca tinhamos parado pra pensar.
    Parabéns.

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  7. Ótimo texto!
    Fui vítima de um desses "professores" por mais de 3 anos.
    Estou a disposição para tentar ajudar a acabar com tal situação.

    Parabéns pela iniciativa.

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  8. Parabéns pelo post, esta questão merece ser refletida. Porém, nela há o avivamento de uma questão central para a continuidade desta discussão: qual a diferença entre ética e moral? Como ajuizarmos a subjetividade humana a partir de regras de conduta moral? Um forte abraço a todxs!

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  9. Parabéns! Texto excelente! Fiz cursinho 2 vezes e nas duas eu era monitora da turma. Fui assediada por professores nojentos, vi colegas "ganhando cartão de visitas pra sair com o professor em outra oportunidade" e na faculdade aconteceu a mesma coisa. Era sempre muito constrangedor. Uma vez um professor mostrou numa aula a imagem da "Vênus Calipigia", que fica em Barcelona, nisso ele olhou pra mim e na frente de toda a turma disse que a estátua tinha "uma bundinha espetacular como s minha". Fiquei chocada e todo mundo começou a rir. Se eu soubesse do feminismo naquela época eu teria denunciado ele.

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  10. Excelente texto, e totalmente condizente com a realidade. Fui professor de pré-vestibular e a situação é essa mesma.

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  12. Peraí, se o cara é sedutor por qualquer motivo isso caracteriza violência ou abuso?? Se uma mulher então usar seu corpo ou personalidade para seduzir um homem ela está abusando dele? O correto é ser o mais capacho possível para que não haja risco da relação de poder prejudicar o outro? Isso não é exercício de pensamento, isso é viagem com drogas pesadas ou suicídio neuronal!!! E tem umas lerdas aqui chamando o texto de "excelente" só porque condiz com sua ideologia absurda. Affe...

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    1. Janaína: volte ao início do texto e o leia novamente. Parece que és tu que estás usando drogas pesadas e não consegue avaliar que há relações de poder dentro da sala de aula. Alguns professores não usam da sedução, e sim da verticalidade (em que o professor é autoridade) para atrair seres em formação, adolescentes, geralmente do sexo feminino, e se beneficiar sexualmente. Eles fazem número e competição, tratam a mulher como um gado.

      Se tu achas que isso é normal, procure o neurologista. Inverter a situação, dizendo que a mulher seduzir um homem é abuso, é uma contra-argumentação burra, pois pressupõe uma igualdade entre gêneros. Só reafirma o patriarcado. O texto aqui escrito, como todos desse blog, luta para que as mulheres se identifiquem sim com uma ideologia, pois é necessário ainda que algumas pessoas leiam e se sintam confortadas, para não reafirmar machismos como esses teus, que acha a relação de gênero igual e que considera "lerdas" as mulheres que lutam por uma causa social. Parabéns.

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    2. Janaína, tuas inferências vão além do que o texto permite ler. As tuas três primeiras perguntas não denotam entendimento. Primeiro: o texto não diz que ser sedutor é ser abusivo. Aliás, o texto não trata sobre sedução. O texto trata sobre dispositivos de dominação. Além disso, há várias ressalvas sobre um certo ipo de professor no texto - o que não generaliza a classe em nenhum sentido. Segundo: Não estamos falando sobre uma mulher usar seu corpo para a sedução. Falaremos disso em outros textos - essa é uma questão complexa, porque os quereres individuais, do ponto de vista que adotamos em nosso blog, são plenamente mediados pela história e pela cultura. Terceiro: O contrário de abuso de poder não é ser "o mais capacho possível". Nem sei o que tu esperas dizer com isso. De modo geral: o texto trata sobre uma relação social específica e aborda justamente o entremeio de uma parte dessa relação. Para alguns professores (não todos, não tantos), estar à frente de uma classe permite empoderar-se e agir pela falta de ética profissional - o que acontece em muitas profissões. E isso, para nós, é importante de ser pensado, porque olhamos para as imagens das mulheres, nessas variadas esferas. Muitas vezes, sim, as meninas estão construindo uma identidade - mediada pelos significados políticos implicados na instituição "cursinho" - e participam desse jogo. Obrigada pela participação no blog!

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    3. Bom dia a todxs! Raquel, diante de sua argumentação firmemente construída nesta resposta, volto a indicar a necessidade de realizarmos, antes de tudo, a reflexão sobre as "diferenças" entre a ética e a moral, como havia colocado em meus comentários anteriormente:"...qual a diferença entre ética e moral? Como ajuizarmos a subjetividade humana a partir de regras de conduta moral?" Penso desta forma pois imagino, se não a fundamentarmos, haver a possibilidade de discursarmos apenas no campo da moral. E, desta forma, creio que nossos argumentos (sempre em favor do binômio igualdade/diversidade) intentem contra a liberdade, uma vez que a moral se estabelece a partir dos costumes sociais já sedimentados. Vejam pessoas, é exatamente nestes costumes que residem a intolerância e o preconceito,bem como o machismo e todas as formas de violência implícitas ou explícitas que devemos combater. Finalizando, creio que precisaremos nos livrar da moralidade presente, porém oculta, em nossos discursos para conseguirmos ir além desta seara arenosa. Ou não (como diria Caetano Veloso? Rsrsrsrs...)? Abraços a todxs!

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    4. Vandré, nem ia dizer nada, mas a pessoa assina meu blog, lê um texto em que indico esse texto aqui e vem aqui falar coisinhas... Amigo, poderia dizer que esquerdomacho metido a anarcopunkmacho com discurso pseudo feminista não passarão, mas acho melhor te perguntar: como você fazia para passar vergonha antes? Um salve!

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. Texto MARAVILHOSO!!!!

    Parabéns ao blog e a iniciativa!!!!

    Acho que a questão maior a ser levada aqui não e a sedução e sim a MANIPULAÇÃO que é uma artificio perigoso e perverso!

    O mais forte contra o mais fraco...e isso é covarde e abusivo, SIM!!!!

    Merece toda a atenção!!!!

    Um grande abraço!!!

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  15. Texto MARAVILHOSO!!!!

    Parabéns ao blog e a iniciativa!!!!

    Acho que a questão maior a ser levada aqui não e a sedução e sim a MANIPULAÇÃO que é uma artificio perigoso e perverso!

    O mais forte contra o mais fraco...e isso é covarde e abusivo, SIM!!!!

    Merece toda a atenção!!!!

    Um grande abraço!!!

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