quinta-feira, 30 de outubro de 2014

vamos falar sobre aborto

Eu devia ter uns 22 anos, cursava um curso de graduação de uma conceituada universidade federal (a qual tive acesso por cursar colégio particular e cursinho), morava na casa da minha mãe (que sempre me apoiou e me ajudou financeira e emocionalmente quando necessário), era bolsista de iniciação científica (podia me dar esse luxo de ter treinamento acadêmico/científico  e ainda ganhar na época 200 pilas por mês pra fazer festa), dava aulas de inglês  sem carteira assinada para ganhar um pouco de cancha no mercado de trabalho antes de me formar e tava há pouco mais de dois meses com o primeiro namorado sério. Ia me formar no mesmo ano, tinha tudo para ingressar no mestrado no ano seguinte, começar a trabalhar com carteira assinada e começar minha carreira de mulher bem-sucedida-indepente-moderna-etc. Tinha parado de tomar pílula porque achava que ficava inchada demais com os hormônios.


Um dia, eu e meu namorado transamos sem camisinha. Tomei a pílula do dia seguinte. Tudo certo. Depois de um mês, rolou de novo. Ah, que ingênua transar sem camisinha. Ah, que puta. Ah, que irresponsável. Que atire a primeira pedra quem nunca. No calor da hora, com excitação a mil e namorado insistindo é difícil dizer não. É bem difícil. Ah, amor, toma a pílula do dia seguinte de novo. Tomei. Duas semanas depois, nada de menstruação. Um mês depois, nada de menstruação. Tontura, enjoo, vômito, cólica. Ah, é psicológico, diziam os amigos dele. Fiz o exame. Deu “indefinido”. Uma semana depois, tava lá, a verdade escrachada na minha cara. Positivo. Positivo. Positivo. CARALHO. Não podia ser real. Mas era. Positivo. Positivo. Positivo. Aquilo não podia tá acontecendo comigo. Não podia. Ter o/a bebê nunca passou na minha cabeça. Eu não queria ser mãe naquele momento. Não queria. Não tava pronta praquilo. Não queria. Não me via naquela posição. Liguei pro namorado. Chorando. Não acreditava. Ele não acreditava. Eu já tinha a minha decisão. Eu queria abortar. Eu não queria ser mãe. Não queria não queria não queria. Falei pra ele que queria abortar. Ele também queria que eu abortasse. Mas o importante pra mim sempre foi que essa era uma decisão minha. Só minha.


Falei com minha ginecologista e ela me recomendou um cara que atendia pessoas de classe média na minha cidade. Custava R$1.500,00 na época. Sei lá quanto é hoje. Isso uns 10 anos atrás. Eu tinha dinheiro. Meu namorado tinha dinheiro. Minha mãe tinha dinheiro. Os pais do meu namorado tinham dinheiro. Meu namorado fez questão de dividir comigo o custo. Lembro até hoje do momento em que eu tive que contar pra minha mãe. Senti vergonha. Disse que eu e ele partiríamos o custo. Ela disse que queria dividir também. Ficou 500 pra cada um. Eu tinha gente que me apoiava. Emocional e financeiramente.

O consultório do cara era lindo. Chão de granito. Máquina de café gostoso free pros acompanhantes. Mulheres lindas e bem arrumadas com suas filhas bonitas, magras e bem-vestidas. Eu, bem vestida. Com meu namorado bonito, bem vestido. Fomos pra lá no carro dele. Eu não tive medo de morrer ou ficar doente ou de não conseguir engravidar nunca mais. Eu tive medo de ser presa. E de não “apagar” com a anestesia. Essas duas coisas apareciam no meu sonho de modo intercalado.

Depois do procedimento eu acordei vestida, dormindo num sofá. Não lembrava onde tava. Tava meio grogue. Vomitava sem parar. Discuti com a “enfermeira”. Queria meu namorado. Queria um abraço. Não parava de vomitar. Eu tinha que sair da sala porque tinha outra menina que precisava deitar ali. Eu não tava pronta pra sair. Fomos pro apartamento da minha mãe. Minha mãe ligou, meu orientador ligou. As pessoas se preocuparam comigo. Minha gineco ligou também.


Eu era uma menina de classe média e descobri que o custo pro procedimento era o de em torno de 10 minutos do tempo do médico e de uma enfermeira, a tal anestesia que te faz dormir e um leito por tipo uma hora. Eu paguei 1500. Cara, paguei 1500 por uma coisa ridícula. Eu tinha 1500. Eu tinha uma mãe que não me julgava e um namorado que me apoiou. Eu tinha uma família esclarecida, que nunca me julgou.

Olhando pra trás não consigo não pensar nas milhares de meninas que não tem uma família que dá apoio emocional ou que dá apoio emocional, mas não tem como ajudar financeiramente. Ou que tem um namorado escroto que tá cagando pra saúde e segurança da menina. Eu não consigo parar de pensar nisso. Não tive nenhuma doença depois disso. Deu tudo certo. Tudo certo. Graças a deus? Não. Graças ao dinheiro que minha família e as pessoas que me amavam tinham. Graças a esclarecimento que todos tínhamos de que a mudança no meu corpo e na minha vida eram, sim, uma escolha minha. E que eu tinha dinheiro pra isso. E as meninas que não tem? Ninguém deixa de abortar porque não tem dinheiro. Quem não tinha os 1500 na época pagava 10, ou 5 e ia num açougueiro qualquer. Ou enfiava uma agulha de tricô pra dentro. Eu não precisei disso, mas muitas meninas precisaram.


O custo do aborto seguro e limpo e sem consequências pra vida da mulher é muito baixo. Mas custa caro porque é ilegal. É um privilégio. Ter direito de ter saúde é pras mulheres que tem dinheiro. Até quando? Vamos falar sobre aborto.



Relato enviado por leitora, como contribuição espontânea ao blog e ao movimento pela descriminalização da interrupção voluntária da gravidez. #preciamosfalarsobreaborto

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

as mulheres e o sexo

Mulher não gosta de sexo. Mulher não se masturba. Mulher tem dificuldade de ter orgasmo. Mulher não sente atração por outra pessoa quando está comprometida. Mulher faz sexo por obrigação. Mulher não gosta de pornografia. Mulher não vê pornografia. Mulher tem menos desejo sexual que o homem. Mulher não tem fantasias sexuais.

Aham, tudo verdade. SQN!


Ninguém sabe lidar com a sexualidade feminina, nem mesmo as próprias mulheres. Aproveitar o sexo, sentir prazer e desejo nos foi negado por tanto tempo que ainda não entendemos que não é assim que funciona, que temos, sim, direito ao sexo do jeito que bem desejarmos! Os homens não são os protagonistas na hora do sexo (e em nenhum outro momento, né!), mas ainda lemos muitas reportagens para saber os grandes truques de como "enlouquecer" o homem na cama. Mulher aprende pole dance, compra mil e uma lingeries, faz striptease, treina caras e bocas, aprende a esconder gorduras e celulite até sem roupa, tudo para ser uma boa mistura de namorada comportada com atriz pornô. Tudo para o homem.



A sexualidade feminina realmente é bem diferente da masculina. Isso não significa ser melhor ou pior, ter mais ou menos desejo, gostar mais ou menos de sexo. E, além disso, não existe um tipo de relação certa com o sexo. Além de homens e mulheres lidarem de formas diferentes com isso, dentro dessa divisãozinha sexista ainda tem muita coisa. Apenas ser mulher ou ser homem não define a nossa sexualidade. Apesar das queridas revistas "femininas" teimarem em trazer a palavrinha SEXO em todas as capas e prometerem dar dicas que irão atender aos desejos de TODOS.





Claro que essas revistas são uma porcaria em todos os sentidos. Tu costuma ler alguma delas? God, para imediatamente! Juro que vai ser uma das melhores decisões da tua vida! Realmente, ler um desses manuais de como chegar de forma eficaz ao orgasmo vai te fazer achar que tu nunca teve ou vai ter um orgasmo na vida! Então, antes de seguir lendo, esquece as merdas que tu um dia possa ter lido, desintoxica a cabeça e o corpo todo.


Pois bem, continuemos!
As verdades que circulam sobre a sexualidade da mulher normalmente giram em torno do homem e seu pênis mágico e cheio de poderes. Aí, pra quem tem essa ideiazinha fechada de sexo, obviamente a sexualidade feminina vai ser um tabu, um mistério. Ó mundinho pequeno e estúpido, será que dá pra parar de tentar definir a mulher a partir do homem? Será que dá pra parar de dizer que uma mulher braba ou mal-humorada é uma mulher mal comida? Queridos homens, desculpa, mas um pau duro não tem o poder de mudar o humor de ninguém, muito menos quando tu acha que só isso é o suficiente no sexo. Queridas mulheres, vocês são donas do seus próprios desejos.

Falar de sexualidade feminina num mundo onde mulheres são vistas como objetos dos homens é muito difícil e parece um assunto distante, que precisa de muita caminhada. Mas vivendo nessa situação em que tudo sobre essa divisão sexista de mundo está errado, temos que falar sobre tudo, tentar quebrar todos os tabus e regras ao mesmo tempo. Tratar a mulher como objeto leva tanto a situações extremas como estupro e agressões verbais, até ao modo como as mulheres se veem diante do sexo, se escondem, acham que isso não é pra elas, que elas devem apenas cumprir um papel de beldades desejadas pelos homens. Está tudo bastante interligado. 

O corpo feminino é cercado de regras. Seios amostra pode no carnaval, mas não na hora de amamentar um filho. A mulher deve mostrar o corpo, mas na medida certa, se não ela está "pedindo". A mulher tem que saber valorizar o corpo, ou seja, gordinhas escondem as dobrinhas. Magreza demais também não é legal, dá um jeito de ter umas curvas aí que homem gosta de ter onde pegar. E quem será que ditou essas regrinhas, galera? Olha, acho que não foram as mulheres, não...



As mulheres precisam perceber que há um mundo a ser descoberto em relação ao sexo. Virem a atenção para vocês mesmas, não é o homem que manda, não é ele que decide o que é melhor. Não finge orgasmo, tu não tem essa obrigação. Não sentiu prazer? Fala pra criatura com quem tu acabou de fazer sexo! Explora coisas novas, descobre o que dá certo pra ti e não copia o que as revistas ou amigas dizem. Tu pode e deve sentir prazer.

Mulheres gostam de sexo. Mulheres podem sentir mais desejo sexual do que os homens. Mulheres têm fantasias sexuais. Mulheres se masturbam. Mulheres veem pornografia. Mulheres sentem atração por outros homens ou mulheres mesmo estando casadas. Mulheres sentem vários tipos de orgasmos diferentes.


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

a vitória das mulheres

Ontem, discursando diante de centenas de militantes de esquerda que comemoravam a vitória de Dilma em Porto Alegre, Olívio Dutra fez uma declaração que (me) emocionou muito: quem ganhou as eleições foram as mulheres, quem estava nas ruas gritando e fazendo campanha foram as mulheres. Com todo o seu conhecimento e experiência em política e militância, Olívio Dutra percebeu o crescimento de mulheres na política, a força feminina (feminista).

Eu também percebi a mesma coisa. A quantidade de mulheres em cada caminhada da diversidade a favor de Dilma era muito grande. As campanhas feministas contra colocar no cargo de presidente da república um homem que agride mulher foi forte. 


Penso então que essa foi uma vitória feminista. Os homens (e mulheres, infelizmente) elitistas-machistas usaram todos aqueles “xingamentos” clássicos deles: gorda, feia, puta, terrorista, histérica, louca. Esses belos adjetivos foram tanto direcionados à Dilma quanto às mulheres que a apoiavam. Mal sabem eles que nós, feministas, muito já superamos esses rótulos e os abraçamos com gosto.



Chamar uma mulher de vadia, feia e gorda não a afasta mais da luta, só faz ferver um pouquinho mais o sangue, dá mais vontade de sair pra rua e brigar por mudança. E assim foi, as mulheres estavam muito presentes nessas eleições, fizeram as suas próprias pautas de reivindicações, mostraram que feminismo é política, que não se pode ignorar atitudes machistas em candidatos a cargos públicos.

A cada debate entre candidatos, surgia uma mulher para analisar as posturas, as falas, os discursos permeados de machismo. Para cada candidata chamada de leviana, apareciam outras mil “levianas loucas equivocadas” sambando na cara do patriarcado. As mulheres não enfraqueceram. Escrevo aqui porque isso eu vi, fiz, vivi, comemorei. 



As mulheres estão na política para dizer que não pode chamar a Marina de magrinha, a Dilma de gorda, a esposa do Aécio de loira-burra. As mulheres saíram dos bastidores, não são mais figurantes atrás dos maridos, ou meninas comportadas que não gritam. Quem pegou o megafone e cantou nas passeatas não foram só os homens, esse canto foi dividido e levado adiante por vozes agudas e fortes.

As mulheres enfrentam o machismo todos os dias apenas por serem mulheres. Enfrentam agressões, xingamentos baseados em nada além de gênero, violências disfarçadas de elogios.


Essa luta, essa política se faz todos os dias. Da mesma forma que as mulheres apareceram mais e tiveram vitórias, os discursos machistas foram também expostos e estão aí para serem desmanchados o tempo todo, todos os dias. O nosso corpo é político, as nossas palavras são políticas, a nossa voz é política.


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

abrace um machista

Já notou que mulher gorda tem necessidade de falar bem alto, dar gargalhada, bater com as mãos na mesa de bar, ser espalhafatosa? Só falta rir de língua pra fora.

Olha o quanto a Adele se importa com essa opinião

Há alguns anos eu tive a infelicidade de ouvir isso de um conhecido, num papo informal, desses que a gente tem pouco monitoramento da fala. Ele se referia, nessa conversa, a uma amiga em comum e, em certa medida, a sua própria irmã. Desse mesmo ouvi que eu tinha que me cuidar, pra não virar uma baranga:

Tu ainda é novinha, tem 21, tudo durinho. Vai chegando perto dos 30 mulher vai embarangando. Tem que ir pra academia, correr. Isso aconteceu com a minha irmã, ela era magrinha como tu, acredita? Olha no que virou hoje!

Olha a baranga dançando pra ti, saci!

É um velho conhecido esse tipo social. É o que chama a professora da faculdade de “mal comida” se ela entrou na sala mais séria. Ou o que diz preferir guria mais nova porque tem menos uso, não é “carro batido”. Pode ser também o tipo egoísta, que não conhece o próprio corpo, muito menos o da namorada ou esposa e faz um sexo baseado em apertar botões, com a ajuda de aparelhos eróticos femininos - já que ele não vai perder tempo em preliminares - melhor que ela use a butterfly*!

O cara que disse essas coisas dizia muito mais. Ouvi em certo papo de botequim que sempre que via um gordo na rua ele imediatamente visualizava um cachorro-quente nas mãos da pessoa.

Entre seus amigos, esse rapaz sempre foi considerado uma pessoa extremamente engraçada, aquele tipo de amigo que todo mundo gosta, porque tem opinião e teoria sobre tudo, sabe? Que, tecnicamente, ri de si mesmo, mas usa isso pra poder metralhar seus preconceitos sobre outras pessoas.

Esse cara não tem e nunca teve a menor graça. Mas por que, então, existe plateia pra esse tipo de piada? Por que é necessário, pra pessoas que falam dessa forma, falarem e agirem dessa forma? Nós pensamos um pouco e elaboramos algumas hipóteses pra tentar explicar esse fenômeno bem comum.


Faltou tomar uns tapas da vida

Faltou ouvir umas verdades

Nunca dançou Beyoncé

Não lida bem com quem se ama

Precisa de amor

Só pra lembrar, porque nunca é demais: uma mulher é sempre o que ela quiser. Ela pode rir alto. Ela pode gargalhar. Ela pode falar baixo. Ela pode comer 10 cachorros-quentes ao mesmo tempo ou nenhum. E, incrivelmente, sem que nem tu perceba, talvez ela possa te educar e até ser solidária com a tua ignorância e teus preconceitos. 

Abracemos o machismo. Até sufocar. 

*Pra entender uma Butterfly:
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By Raquel Leão


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

epifania feminista

Ando coletando histórias (de terror) que me sufocam de tanto machismo. Não são apenas histórias de estupro e violência física, de machismo visível e de fácil identificação. Mas histórias de ruído machista.

A mulher faz uma cirurgia. Está em casa se recuperando, com bastante dor no corpo, tomando remédio, com cicatrizes, marcas, incômodos, precisando de carinho, mimo, atenção. O seu namorado diz que só espera duas semanas, depois disso vai começar a “procurar sexo na rua”.

A mulher está doente, sem condições, sem vontade. Não importa, essa é uma de suas funções. Não pode deixar o namorado insatisfeito, aguenta a dor e abre as pernas.

A mulher engravida. O casal não quer ter filho. O namorado a deixa de lado e avisa as amigas que “isso é com elas”. As amigas pagam o aborto (ilegal e perigoso, infelizmente ainda no Brasil) e cuidam dela. O namorado segue falando que não vai usar camisinha.

Engravidar é culpa da mulher. Quem cuida disso é ela e suas amigas, também mulheres, também culpadas.

Para esses homens, no sexo tudo que importa é o seu próprio prazer. A mulher está ali servindo como um objeto de prazer, uma boneca inflável. 



O que quero tratar nessas histórias não é o machismo masculino. Esses caras são tão escrotos que nem merecem um texto sobre eles.  O que me convoca a escrever são as atitudes femininas. As duas mulheres dessas histórias continuam nesses relacionamentos, estão, no momento, ocupadas organizando seus casamentos. 

Também não estou aqui apontando o dedo para essas mulheres e as chamando de culpadas. Elas são vítimas de uma sociedade machista que diz para elas todos os dias que elas não são nada, que sem os homens elas são coitadas solteironas, que elas não podem ser independentes, que elas são feias e gordas e precisam da aprovação masculina, que elas possuem um papel já bem definido e não podem ser questionadoras.

Expondo essas duas pequenas histórias dessa forma, fica mais fácil identificar a violência contra a mulher. Mas essas são violências veladas, escondidas, tão cotidianas que esquecemos o quanto elas violam os direitos das mulheres. Essas mulheres que estão presas em relacionamentos tóxicos acabam não enxergando isso de tão corriqueiro que é, de tão presente em piadas, de tão impregnado em nossos hábitos.

Escrevo num grito de desespero, porque conheço essas mulheres e muitas outras iguais e queria conseguir mostrar para elas a violência que elas vivem todos os dias. Não é fácil enxergar. E se enxergar, não é fácil se livrar. Elas pensam que precisam fazer esses relacionamentos funcionarem para não serem fracassadas. Elas pensam que não vão encontrar ninguém melhor. Pensam que esses homens têm, sim, poder sobre seus corpos, suas vontades, suas necessidades.



Clarice Lispector colocou muitas de suas mulheres personagens em situações de confronto, em momentos epifânicos que podiam ser provocados pelas coisas mais cotidianas e sem sentido e que exigiam questionamento sobre a vida tranquila e normativa que elas aparentemente levavam. Para Ana, do conto “Amor”, foi ver um cego mascando chiclete no bonde.

O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.

 A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.

 O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles… Um homem cego mascava chicles.

 Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmãos viriam jantar — o coração batia-lhe violento, espaçado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos vê. Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio. Mas continuava a olhá-lo, cada vez mais inclinada — o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a desprevenida para trás, o pesado saco de tricô despencou-se do colo, ruiu no chão — Ana deu um grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do que se tratava — o bonde estacou, os passageiros olharam assustados.
(...)
 O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas. Na Rua Voluntários da Pátria parecia prestes a rebentar uma revolução, as grades dos esgotos estavam secas, o ar empoeirado. Um cego mascando chicles mergulhara o mundo em escura sofreguidão. Em cada pessoa forte havia a ausência de piedade pelo cego e as pessoas assustavam-na com o vigor que possuíam. Junto dela havia uma senhora de azul, com um rosto. Desviou o olhar, depressa. Na calçada, uma mulher deu um empurrão no filho! Dois namorados entrelaçavam os dedos sorrindo… E o cego? Ana caíra numa bondade extremamente dolorosa.

 Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite – tudo feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca.
(...)
 Ao mesmo tempo que imaginário — era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudas, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega — era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante.
(...)
 Deixou-se cair numa cadeira com os dedos ainda presos na rede. De que tinha vergonha?
Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era mais piedade, não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver.


Pequenas atitudes feministas podem ser o cego mascando chiclete. Ser mulher é uma luta todos os dias. Ser mulher é transgredir, revolucionar. Falar mais sobre feminismo, não deixar passar nenhuma piada, nenhum comentário machista é uma luta da mulher. A piadinha do teu colega de trabalho pode representar a violência silenciosa que a mulher dele passa todos os dias.

Nesse grito de socorro, eu peço: não se calem, não tenham medo, lutem contra qualquer forma de machismo. Em algum momento, essas mulheres dessas histórias terão de se deparar com um cego mascando chiclete, com uma epifania feminista. Vão ter que comer o mundo com os dentes e encher o coração da pior e mais doída vontade de viver.


terça-feira, 14 de outubro de 2014

até quando, Fabrício Carpinejar?


Toda vez que uma mulher perto de mim diz que adora os textos do Fabrício Carpinejar, eu morro um pouco. O desprazer de hoje não foi diferente. Uma cena bastante comum é ver, entre professoras, escorregarem preferências literárias fortemente questionáveis. O que me lembra uma velha comparsa desse Nejar aí de cima, adorada por mulheres que talvez ainda não tenham colocado fogo no pau da barraca - a Martinha Medeiros, rainha de clássicos ensebados do machismo branco do meu Brasil, que muita mulher ama e se identifica.

Pois vamos ao chorume do dia.

Exercitando o amor ao próximo e a vontade de afeto, lemos a crônica de hoje "Como você fala", elogiada pelas colegas que se viram identificadas nesses perfis femininos e conjugais absurdos, parcamente formulados pelo Brício. 



Mulher é!

Essa é a fórmula do amiguinho, que achávamos que até mesmo em seu código de escrita de reafirmação de rótulos, tinha caído em desuso. E daí tu já sabe o que esperar. Uma cadeia de estereótipos femininos, uma relação de novela das oito, em que um homem, pela sua genética homem, é uma criatura desprovida de entendimento do incrível e maravilhoso universo feminino, complexo e histérico; é a mulher briguenta e mimada que compõe a heroína adorada do Carpis. Ai, meu útero!



Sente só o trechinho inicial de "Como você fala":

Quantas vezes você, para superar a insensibilidade e o laconismo do macho, finalmente expressou o que ela ansiava ouvir e ela não ficou satisfeita? Esperava a libertação, o elogio, a recompensa e aguentará uma nova e inesperada crítica da esposa: 
– Não foi o que você disse, mas como disse. 

Você, homem insensível e lacônico, aprenda com Carpinejar a agradar uma mulher chata. É isso, minha gente, o que esse louco tem dito por aí há muito tempo. 



Fabrício Carpinejar já publicou 21 livros. É possível encontrar uma infinidade de crônicas suas na internet, quase todas irônicas, um pouco engraçadas e de fácil compreensão, que agradam grande parte dos leitores de fim de semana.
 
Carpinejar adora escrever sobre a mulher. A mulher, singular mesmo, porque pra ele só existe uma mulher. Essa mulher é complexa, intrigante, perseguidora, brava, implicante e fascinante como um experimento científico. O cronista tem um jeito bem seu de escrever que parece elogiar na medida em que cria estereótipos, tipifica, coisifica, diminui a mulher.

Mulher sempre sabe de tudo
Ela lhe cuida mesmo quando é indiferente, ela lhe observa mesmo quando vira as costas, ela lhe ama mesmo quando parece não amar.
Toda esposa é a justiça encarnada.
Ela vem com um aplicativo da Polícia Federal a mais no seu DNA.
É pior do que escoteiro: sempre alerta. É evidente que sua concentração absoluta tem efeitos colaterais: o estresse, a irritabilidade, as longas enxaquecas. Mas são consequências naturais para quem fica ligada dia e noite nas movimentações do amor.

A mulher sabe de tudo. De tudo sobre a vida do marido, porque é só isso que importa pra ela. A mulher cuida cada passo do homem, vigia seus movimentos como uma leoa caçando. Ela precisa cuidar do seu homem, precisa ser feroz, afinal vive numa selva onde várias outras leoas querem a sua presa.

A mulher certa
Você somente se apaixona pela mulher que sabe provocá-lo.
Você somente se apaixona pela mulher que faz tudo diferente de sua mãe.
Você somente se apaixona pela mulher que jamais entende, que é um mistério, que é motivo de metade da conversa com seu terapeuta. 
A mulher de sua vida é a melhor de suas inimigas. Como não consegue vencê-la, traz para seu lado. 

A mulher certa é inimiga da tua mãe, te provoca, é um eterno mistério, te causa anos de terapia, é tua inimiga também. Como o homem não consegue vencê-la a enche de estereótipos, marcas, algemas. Trazer ela para o teu lado é melhor forma de controlá-la.


Escrevendo assim sobre a mulher, Carpinejar conquistou muitos leitores e, em especial, leitoras. Mulheres que parecem adorar a caixinha de características elitistas e machistas na qual ele as coloca.

O que tira uma mulher do sério?
Deixar as tampas abertas dos potes;
Dizer que ela está ficando parecida com a mãe;
Pedir para ela cozinhar com a justificativa calhorda de que “ninguém faz aquela comida como você”;
Pegar a lixa preferida de unha dela como material de construção;

LuaLuê! disse...
Ai, nem fale! É realmente de enlouquecer uma mulher...rsrsrsrs, fico imaginando se você, "sabedor" de todas esses ítens, faz porque não percebe, não faz, ou faz para sacanear. O meu maridão leu e disse que "se faz" é porque não percebe, rsrsrsrs...
 
janalk disse...
Fabrício, vc é incrível! Se torna melhor a cada dia. Sucesso! E por favor, continue!! Você me ajuda a refletir com seus textos. 

Abraço,
Lajana

Fazer uma lista de coisas que irritam a mulher usando todos os estereótipos mais nojentos. Ver a relação homem e mulher como uma hierarquia. Criar imagens da mulher como louca e irracional. Mostrar que o mundo da mulher gira em torno do marido e da casa. E depois receber o comentário de uma mulher dizendo que o texto é incrível e que ela se identificou. Confere, produção?



O machismo do seu Carpinejar é visível em todos os textos dele. Ele a-do-ra falar de mulher, é um especialista. Claro, ser homem branco, se dizer intelectual, escritor, casado é o suficiente para ser especialista em mulheres, não é?

Não é não, meu querido!


Mas quem diz para as mulheres como elas devem se comportar, quem analisa suas mais complexas (pff) facetas, quem diz quando pode e quando não pode elogiar, não é o homem branco, macho alfa, intelectual? (vide Beyonce acima)

Esse machismo camuflado de elogio é perigoso e está impregnado por tudo. As mulheres leem e se sentem amadas, importantes, no centro dos assuntos masculinos. Os homens leem e se sentem superiores, aqueles que definem, aqueles que detêm o poder de julgar, de elogiar, de machucar. 

Momento autoajuda

Mulheres, ninguém que diz que “mulher é assim” está certo. Tu não te identifica com isso, tu não precisa ser isso. Tu não é um ser complexo, capaz de cumprir multitarefas, implicante, sensível, briguenta. Tu pode ser isso se tu quiser. Não sai por aí dizendo que amou não sei qual crônica do Carpinejar ou da Martinha, que assim tu mata a luta feminista, tu mata as tuas próprias características, tu acaba com qualquer construção singular que tu possa ter, ampliar. 

Hanna Arendt

Hoje Hanna Arendt faria 108 anos. Certamente o Fabrício só tem espaço pra escrever tanta bobagem hoje, dia 14/10, porque Hannah ampliou muito esse mundo. 

By Raquel Leão e Ananda Vargas

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

professora tatuada

Apesar de nunca ter me sujeitado a preconceitos com as tatuagens e piercings, e ter passado bastante tempo da carreira indo trabalhar com um plástico em volta da tatuagem nova,  ou fazendo retoque no intervalo das aulas, vejo muito uma curiosidade negativa, como se eu, que sou a adulta da sala, não tivesse pensado muito no assunto. Luana Limas, professora de Língua Inglesa, professora tatuada. Na foto, a tattoo linda da Luana, com o gato Napoleão, o Naps. 


Mulher tatuada já incomoda muita gente. Uma professora tatuada, então, só pode ser totalmente insana! E se ela tem tatuagens e piercing, no rosto, a desconfiança sobre sua seriedade e profissionalismo tende a aumentar quando se trata de trabalhar em escolas mais tradicionais, mais conservadoras. Mas calma! Depende da tatuagem, néééaaannn.

Se for uma borboletinha ou uma estrelinha aí pode, porque é supermeigo e remonta uma adolescência que já foi curada, mas deixou uma marquinha com a qual nós, cidadãos de bem podemos lidar... Porque tatuagem em mulher precisa ser meiga, meiga como uma mulher meiga. Afinal, professora é feito mãe: sendo meiga, ela cuida, dá colo, dá mimo, é carinhosa, trabalhadora atenta, sensível e teme perder seu rico emprego. Certo?


Quem quer uma mulher tatuada e transgressora dando aula pros seus filhos? Quem quer uma professora de língua ou de literatura que desafia a linguagem do próprio corpo, desconstruindo regras sem sentido há centenas de anos estabilizadas? Quem aí prefere uma figura forte, que já matou a normalista de saia plissada na cabeça há muito tempo, mostrando que ser professora é, por essência, ser uma perguntadora?


Luana Ogliari é formada em Filosofia e Mestre em Literatura. É professora tatuada, de Literatura, para o Ensino Médio. 

Com o calor chegando, as tattoos das professoras começam a aparecer, e o mais interessante de tudo é ver as reações dos alunos e de outros professores sobre esse fato corporal.

Sora, quantas tatuagens tu tem? Por que tu fez tatuagens? O que elas significam? Dói muito fazer tatuagem? Eu queria fazer uma, mas minha mãe não deixa. Ai, que linda essa tua tatuagem! Nunca tinha visto. Tu tem várias, né? Adoro o teu estilo, assim, tão diferente. Esse pessoal da Letras têm umas ideias legais de tatuagem.


"Uma colega de trabalho perguntou se minha tatuagem era de verdade. Achei engraçado, não consigo me imaginar fazendo um carimbo no braço pra ir pra escola, não aos 26 anos. Além dessa, seguidamente escuto de outra colega sobre o quanto meu piercing do nariz deixa ela irritada – me dá vontade de arrancar isso de ti!" Raquel Leão, Doutoranda em Educação, professora tatuada.


Tu tem uma tatuagem na coxa? Ui, que sexy!
Ananda é  Mestre em Ética, Alteridade e Linguagem na Educação. Grande professora tatuada de Produção Textual, desconstrói preconceitos e estereótipos, também pelas imagens que faz de si mesma com seus alunos. 


Surgem também os medos:
Hoje tem reunião com os pais, será que devo esconder as tatuagens? Queria fazer uma tatuagem no pescoço, será que vou ser demitida? Falo sobre as tatuagens com os alunos ou escondo?

Qualquer professora tatuada passa por isso. Aquelas que trabalham em escolas privadas, elitistas e conservadoras principalmente. Vivemos com medo da nossa imagem, sabemos que ter tatuagem pode não ser encarado da melhor forma possível.

"Uma vez fui contratada para um emprego de professora porque a moça gostou das minhas tatuagens de passarinhos, mas uma menina infinitamente mais qualificada, na época, foi alvo de chacota, pois tinha uma caveira; passarinho pode, caveira não." Luana Limas.

Ter tatuagens significa ser interrompida por interjeições de espanto dos alunos, aguentar comentários e piadinhas dos outros professores, olhares maldosos daquela professora já bem velhinha que adora ensinar a diferença entre substantivo concreto e abstrato. Ou então alguém que tri se identificou contigo dizendo: Amei as tuas tatuagens, queria fazer uma, mas não tenho coragem.


Surian Seidl, Mestre em Literaturas Africanas, professora de Português do Ensino Fundamental, professora tatuada. 


Camila Dilli, Mestre em Linguística Aplicada, professora de Português como Língua Adicional, professora tatuada. 


Em alguns mundinhos, ter tatuagem é bastante comum, não é mais visto como sinônimo de rebeldia. Mas não dentro das escolas (pelo menos as que conhecemos). Ser uma professora tatuada cria curiosidade nos alunos, eles querem tocar, perguntar, ver, falar sobre, tirar todas as dúvidas. Eles gostam, mas acham estranho. Eles reproduzem os discursos dos pais, ou reclamam que os pais não deixam que eles façam tatuagem. A professora tatuada é diferente. Vai contra o que se escuta em casa e na TV.


 
 
Comecei a me tatuar com 16 aninhos, a das costas foi minha primeira e tive que refazê-la quando ela fez 10 aninhos, gosto muito de procurar equilíbrio na vida, ela representa isso, minha mandala com o om representa eterna busca por equilíbrio. A outra, no braço, é a união de duas coisas que amo muito e que estão relacionadas ao meu trabalho: contação de história e os povos indígenas. A língua é Kaingang e a frase quer dizer: "nós contamos histórias". Bruna Morelo, Mestre em Linguística Aplicada, tem oito tatuagens.


Nossa homenagem ao dia das Professoras Tatuadas

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

proibido envelhecer (e engordar)

Mischa Barton aparece envelhecida aos 27 anos uma década após The O.C.


O quê? A Mischa Barton envelheceu em dez anos? Que ofensa!!

Reconhece? Mischa Barton surge com (vários) quilos a mais em dia fitness


O quê? Ela não manteve por anos e anos o seu padrão anoréxico impossível? Estou chocada!

Assim como a pobre Mischa, muuuuitas outras atrizes/cantoras são alvos de críticas descabidas sobre envelhecer ou engordar. Outra que recentemente foi criticada foi Lady Gaga:


Lady Gaga, assim como a atriz de The O.C. também sempre teve um corpo extremamente magro, beirando anorexia. Mas isso é que era considerado bonito. Não se pensava na saúde das duas, na magreza exagerada que pode levar a muitas doenças. Não, ossos são melhores do que dobras e celulite.



Infelizmente, o mesmo que as duas aí passam, nós meras pessoinhas não importantes e famosas também passamos. Nós mesmas nos exigimos ter para sempre o mesmo corpo e carinha de quando tínhamos 18 ou 20 anos. O estilo de vida muda, trabalhamos mais, às vezes bebemos ou comemos mais por causa da diferença na vida social, nos preocupamos mais, temos mais contas para pagar, mais desejos e objetivos. No entanto, o sorrisinho adolescente e a magreza devem permanecer iguais. Como, galera?


A gente pode engordar, sim. A gente pode envelhecer, sim (e deve, a não ser que alguém tome a poção mágica do filme “A morte lhe cai bem”). O que nos envelhece e engorda são mudanças na vida, anos que passam e nosso corpo naturalmente se modifica. Tudo muito normal, aprovado pela natureza mesmo, viu?

Eu mesma tenho 27 anos (assim como a Mischa!) e envelheci bastante. Engordei muito também. Quando eu tinha 20 anos eu morava com meus pais, comia a comidinha feita pela minha mãe, tinha tempo e dinheiro (dos pais, sim, que mimada) para fazer academia, não bebia, morava numa cidade com quase nada para fazer à noite e nos fins de semana. Hoje moro do lado de mil bares maravilhosos, bebo bastante porque saio muito com meus amigos, trabalho e não tenho sempre tempo nem vontade de fazer comidas saudáveis. Sou casada e meu marido compartilha desse estilo de vida comigo. Aceitei meu corpo, porque amo meu estilo de vida.


Como não só a Mischa, a Lady Gaga e outras celebridades engordam e envelhecem, abrimos para os leitores nosso arquivinho pessoal. 

Eu e o namorado, bem jovens, magros e inocentes x eu e o marido, mais gordinhos, mais velhos e bem faceiros

Eu com 20 quilos a menos, cabelo bem lisinho e bochecha bem rosada x eu mais gordinha com uma ceva na mão

Quel com a carinha mais inocente, bochechinhas fofas, posando com o Ringo lá atrás x Quel com vários anos a mais, de batom vermelho, bem séria, bem diva

Guriazinhas meio sem jeito, cabelos compridos, 15 quilos mais magras x mais gorduras, mais maquiagem, um pouco mais de jeito com a vida

A questão aqui não é pensar se ficamos mais bonitas, mais gordas, mais feias, mais divas com a idade. A gente muda, todo mundo muda. É bem legal, divertido e traz leveza pra vida se aceitar nessas mudanças.