quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

patriarcado e carnivorismo

Há uma relação impossível de ser negada entre masculinidade e consumo de carne. Explorando um pouco mais: há uma relação entre patriarcado, machismo, sexismo e dominação, com a cultura da carne. Homens que comem carne, muita carne, são mais machos que aqueles que não comem. Tenho mil histórias de amigos vegetarianos que contam quantas vezes foram chamados de bichas (sim, nesse termo bem bonito e respeitoso) por não comerem carne. Desculpa, gente, mas isso não pode ser negado e quem diz que isso é mentira é cego, ou burro. Sorry!

Descobri recentemente um livro sobre o assunto: A política sexual da carne, de Carol Adams. Confesso que só li resenhas, ainda não tive o prazer da leitura completa do livro. Quando descobri esse livro, fiquei chocada por não ter pensado sobre esse assunto antes! Comecei a pesquisar mais e encontrei um milhão de estudos lindos sobre a relação entre o consumo de carne e a formação da sociedade machista. No fim desse texto vou deixar vários links para quem quiser ler mais sobre isso.

Churrasco é coisa de homem, picanha sangrando é coisa de macho, quanto mais carne o homem come, mais másculo ele é nesse mundinho em que vivemos. Podemos ligar isso a um tempo extremamente longínquo em que o homem era caçador e trazia no final do dia o animal que matou para alimentar a sua família. O homem que fosse melhor caçador, melhor provedor era, melhor homem era. Não sei o que vocês acham, mas talvez a gente já tenha saído da idade das cavernas, não? Não conheço nenhuma pessoa que caça o que come, nenhum homem que sai pra selva atrás do javali que alimentará sua família por uma semana. Por que então, ômis, vocês ainda querem medir a masculinidade pelo consumo de carne?


Tem uma outra coisinha importante aqui: a mulher também é um pedaço de carne. Comer carne aqui deve ser lido literal e metaforicamente. As mulheres têm seus corpos divididos em pedaços assim como um boi ou porco. Tal mulher tem uma bunda gostosa, assim como tal vaca tem uma alcatra deliciosa. Outra mulher tem peitos macios e suculentos como um frango. 


Carol Adams fala em seu livro sobre a relação do corpo da mulher com os corpos dos animais e, ainda vai além, menciona o quanto damos tantos outros nomes para essas tantas partes, desvinculando a carne (tanto feminina quanto animal) do corpo real, tornando muito mais fácil uma opressão sem culpa visível. 

O homem se delicia com a carne e com os corpos femininos que desfilam a sua frente. Ambos estão a sua disposição para uso. Comer carne e comer uma mulher marcam a sua posição de dominador, de homem no topo da cadeia alimentar. Ah, como é lindo estar acima, usar, cortar, morder, desumanizar, dar o nome que quiser, assar, dourar. Parece que ser homem, branco e hetero é estar com constante água na boca com tantos pedaços suculentos disponíveis por aí. 

Em 2012, uma marca de cerveja horrível fez uma propaganda que conseguiu juntar toda essa palhaçada de preconceitos:


É tudo tão claro e literal nessa propaganda que explicações são dispensáveis.

A gente pode ampliar essa relação entre machismo e carnivorismo para qualquer outro tipo de opressão. Existem várias teorias que também fazem uma analogia entre o racismo ou a homofobia com a exploração animal. Tudo isso se encaixa na ideia de exploração dos “mais fracos” pelo homem hetero branco superior. 

Homem que come carne não é um malvado machista estuprador, tá, galera hater? Mas a gente não pode negar o vínculo histórico-social-cultural entre essas coisas. Onde há fixado um estereótipo de masculinidade, há machismo, há opressão contra as mulheres e os gays. 

Assar churrasco é uma atividade masculina, assim como pintar as unhas é coisa de mulher. Preferir um suculento pedaço de gado é uma atitude vista como masculina, assim como a mulher preferir salada. Infelizmente essas são características fixadas socialmente.

Quero ver quantos homens já passaram pela clássica experiência futebolzinho com os amigos + churrasco? E quantas mulheres fazem churrasco com as amigas? 

A questão aqui não é condenar o consumo de carne e dizer que isso é coisa de machista, mas não podemos deixar de pensar sobre a relação que esses hábitos culturais têm e que devemos quebrar estereótipos todos os dias.

Esse assunto ainda é novo pra mim, provavelmente voltarei a escrever sobre depois de estudar ainda mais. Para quem quiser ler mais:






Pequena nota contra o ataque às generalizações: jamais falei que todo homem que come carne é machista; jamais falei que as feministas devem ser vegetarianas; nunca pensei nem disse que todas as pessoas do mundo pensam que comer carne é coisa de homem. Tu aí que adora chamar as feministas de generalizadoras: o que apontamos aqui é um discurso do senso comum, estereótipos existentes e marcantes na sociedade.

Pequena nota contra comentários do tipo “mas eu não acho que comer carne é bla bla bla”: ok, legal, brigada pela tua opinião, mas aqui não foi levada em consideração as opiniões individuais e isoladas de cada ser da Terra. Legal que tu não acha que comer carne é coisa de homem, mas aceita que isso é o senso comum e que essa ideia existe, tá? Flws vlws.

2 comentários:

  1. Ta!! Concordo porque muitas vezes, sob os olhares dos homens, me sinto um pedaço de carne gorda suculenta!!!

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