quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

fora do lugar

Os seios foram sempre uma promessa, uma espera, uma marca. Pensava que a menina que tem seios já era mulher, já era grande, era mais que as outras. Não há como escondê-los, até a sua falta é uma existência. Quando eles demoram para aparecer é quando a gente demora para ser mulher. Afinal, ninguém é mulher sem seios redondos que serão complementados por uma fina cintura. Aí tu fica lá, toda esquisita, com uma parte faltando naquele corpo tentando se formar. As meninas todas já comentam que número de sutiã estão usando e até arriscam um decote, mas tu não faz a menor ideia do que é isso. E isso te faz menos mulher, todos os dias tu não te sente mulher. O que tu conhece sobre feminilidade é tão pequeno, distante e sufocante, parece que nunca vai ser alcançado, tu fica só desejando os teus próximos anos de vida, lá, em algum momento, é que tu vai ser mulher, tu vai ser bonita, agora tem que aguentar. Até ter os próprios seios, a gente pensa que eles são todos iguais, a maior diferença parece ser só o tamanho, mas para por aí. A gente não sabe que existem vários formatos. Quando eles começam a crescer, a gente se olha no espelho esperando aqueles seios das propagandas de cerveja. Mas eles não são assim. Aí a gente começa a conhecer todos os tipos de sutiã que existem, todos feitos para modelar, arredondar, aumentar, deixar no lugar. Sim, deixar no lugar, porque a gente tem os seios fora do lugar, pelo menos do lugar que dizem que eles devem ficar. Sempre achei que seios eram a coisa mais feminina do mundo, a coisa mais mulher. O que um homem faz quando se veste de mulher no carnaval? Coloca uma saia e um sutiã com enchimento. Ter os seios perfeitos é uma promessa e uma busca eterna. Esses seios não existem, mas ninguém nos diz isso, ninguém é sincero, nem as mulheres, todas elas têm seios maravilhosos. Tu é a única errada. Não usar sutiã não é aceito, é coisa de hippie, de feminista radical. Ninguém consegue lidar com seios balançando, caídos, pequenos, tortos, escapando pelos lados da blusa. Não pode, o segredo precisa ficar bem guardado. Cada uma de nós deve usar seu melhor sutiã, com o decote que favorece e seguir mentindo uma para outra sobre seu corpo, sobre o corpo feminino, sobre aquilo que toda mulher sente. Os nossos seios não são nossos, nunca foram. Eles evidenciam demais a nossa condição, nos traem. Não são nossos, são estranhos, são errados. Ter seios é uma luta diária.



Nenhum comentário:

Postar um comentário