segunda-feira, 27 de abril de 2015

opressão e privilégio no feminismo

O feminismo não está deslocado de todas as outras lutas sociais. Ser mulher e feminista não te faz não ser mais branca, negra, rica, pobre, magra, gorda, ou qualquer outra característica de classe que defina nossa posição social. As mulheres não são todas iguais, não sofrem as mesmas coisas apenas por serem mulheres.

Já escrevemos aqui tanto sobre termos que reconhecer nossos privilégios, quanto sobre a luta de mulheres negras dentro do feminismo. Acho que podemos juntar essas duas temáticas e pensar mais um pouco sobre como as próprias feministas devem reconhecer os seus graus de privilégios e saber que elas também podem ser opressoras.



Muito se fala em sororidade, em não deslegitimar a dor das mulheres, que somos todas irmãs. O problema é quando esse pedido de "respeitem minha dor" vem somente da mulher branca, magra, rica. E isso acontece muito. Toda vez que uma minoria começa a reclamar seus direitos e mostrar a opressão que sofre, os privilegiados se sentem atacados e começam a gritar "eu também sofro", "respeitem minha dor". E o feminismo obviamente não está livre disso. Acho que muitas mulheres esquecem que ser mulher não significa não ser opressora. Dá pra ser mulher, ser feminista e, mesmo assim, esquecer das dores alheias. 

Quando uma mulher gorda tenta apontar o privilégios das magras, sempre vem uma magra dizer "eu também sofro, não me deslegitima". Quando uma mulher negra tenta mostrar o preconceito da mulher branca, essa mesma mulher branca diz que ela não é racista e que "todas as mulheres são iguais". Não, as mulheres não são todas iguais, e todas as questões sociais devem ser levadas em conta dentro do feminismo. Sororidade de verdade é reconhecer quando se é mulher e mesmo assim se ocupa uma posição de privilégio, e assim se faz o possível para não silenciar aquela que ocupa socialmente uma posição mais oprimida. Gritar por sororidade e reconhecimento não serve quando não se percebe o próprio papel dentro desse jogo de poder.



Não se trata aqui de dizer que as mulheres brancas, magras e ricas não sofrem. Óbvio que sim, pra isso que existe o feminismo, para mostrar que mesmo na classe alta, com uma série de privilégios nas costas, ainda assim a mulher sofre pelo machismo. Tanto que podemos falar sobre machismo só em relação a atrizes de Hollywood, por exemplo. Ricas, magérrimas, lindas, famosas e ainda com salários mais baixos do que os homens, ainda a serviço do gosto e desejo masculino. E isso é horrível e é uma das lutas do feminismo. Mas essa mesma atriz rica maravilhosa deve praticar a sororidade reconhecendo a posição que ela ocupa em relação às outras mulheres. A sororidade se dá a partir de uma relação.

Mulher feminista, toda vez que outra mulher apontar algum privilégio teu, não saia gritando por sororidade, não diga que essa mulher não é feminista porque ela não respeita o teu sofrimento. Se alguém chegou ao ponto de te mostrar que tu tem algum privilégio é porque alguma coisa existe aí, é porque algo tu diz, algo tu faz, ou algo tu deixa de perceber. Em vez de acusar a outra e perpetuar uma posição de opressão, pensa, desacelera, te coloca na posição dessa outra. Alteridade é uma questão de olhar, de posição, de relação. Nem sempre somos o "outro", às vezes somos o "eu" normativo e estamos excluindo o outro. Sororidade só funciona com alteridade.

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