segunda-feira, 18 de maio de 2015

machismo gore

Amo filme de fantasia e horror. Gosto daqueles bem podres e exagerados, com tripas explodindo e baldes e mais baldes de sangue por todos os lados. Gosto de filme de zumbi, demônio, espírito, vampiro e qualquer outra criatura grotesca. Adoro sobrenatural no cinema, histórias fantásticas e ficção científica. Eu e meu marido fazemos maratonas de filmes gore e conseguimos assistir quase todas as nojeiras mais absurdas. Só não dá pra aguentar sexismo, aí fica difícil, aí dá nojo.


Talvez seja novidade para alguns o quanto o mundo nerd é machista. Normalmente carinhas que se identificam com algo dessa "cultura" nerd vem com aquela história de friendzone, o velho mimimi de gurizinho que reclama que é super querido e fofo com a guria e ela só quer ser amiga dele. Tadinho, né, ninguém avisou pra ele que ser "querido" não significa porra nenhuma e ninguém é obrigado a transar contigo porque tu é legal. Friendzone não existe, gente, isso é invenção de machinho.

É também do mundo nerd diversos jogos on-line de rpg. Já viram os depoimentos de gurias que receberam até ameaça de morte e estupro por terem ganhado alguma batalha lá dentro do jogo contra um cara? Ahan, isso existe e muito! 

Pra quem é de Porto Alegre, começou sexta passada o Fantaspoa. Eu amo esse festival, espero por ele todos os anos, assisto todos os filmes que posso, tenho guardado os livrinhos da programação dos últimos 5 anos. Agora tá super pop, enche de gente e às vezes é difícil conseguir ingresso no fim de semana de estreia. Eu acho linda essa participação toda, muita gente envolvida com cinema, prestigiando um evento que envolve esse gênero de filme que eu tanto gosto. Mas eu sabia que esse ano alguma coisa ia ser diferente. Depois que a gente se cerca de armas feminazi, não dá mais pra tolerar nada.



O Fantaspoa é organizado por caras, sempre teve um público maior de homens e várias vezes eu me senti intrusa na fila pra assistir Tokyo Gore Police, por exemplo. Afinal, mulher tem medo, mulher tem nojo, mulher gosta de comédia romântica. Ainda mais eu que to lá bem feliz esperando pra ver zumbis devorando estômagos usando um vestido rosa e uma sapatilha florida. Tem uns caras que me olham e devem pensar que eu to perdida ali, ou fui arrastada pelo cara do meu lado.

Esse contexto todo de machinhos fazendo festivais para outros machinhos pode produzir muita merda. Especialmente na seleção de filmes. Aqueles filmes sexistas que não entram na minha própria seleção dos meus festivais dentro da minha casa, todos eles estão lá no Fantaspoa.

Eu falei sobre o friendzone porque acho que essas coisas estão muito ligadas: os caras se acham vítimas que não conseguem namoradas, aí, quando eles têm o controle sobre o corpo feminino, usam como bem entendem, abusam, se sentem poderosos expondo seios a cada 5 minutos, escravizando mulheres, retratando todas como burras e submissas. Isso ofende todas as mulheres, mas mais ainda aquelas que também se consideram nerds, que também fazem parte desse mundo de fantasia e não conseguem um micro espaço de inserção. Esse mundinho não é só feito de homens.



Os verdadeiros horrores desse fim de semana (quase 14h de filmes e curtas entre sexta e domingo) foram dos mais explícitos aos mais banais:

O curta Nightsatan and the loops of doom foi um dos piores momentos: mulheres escravas que passam peladas o tempo todo, ou enterradas na areia, gritando e explodindo; um cara escroto em busca de uma mulher de verdade (sim, além de tudo ainda teve piada transfóbica!!) para ser sua, independente da vontade dela; mulheres bebendo e se banhando em líquidos "leitosos".



Teve também um cara vendendo livros e quadrinhos na entrada do cinema usando uma camiseta do filme Ninfetas do sexo selvagem, se sentindo assim todo poderoso e escravizador de mulheres vadias. 

O curta nacional Pray (nacional, mas todo narrado em inglês, bleh) que não fez nenhum sentido, foi muito chato de assistir e ainda, no meio das cenas confusas meio de terror, aleatoriamente aparecia uma mulher pelada, assim como quem não quer nada, só pra garantir uns peitos pros machinhos.



Um dos organizadores do evento também achou super engraçado que o diretor do filme de estreia contasse como conheceu a mulher dele: um cara metaleiro que teve que se fingir de ominho padrão e ir em uma festa comum bem limpinho e arrumadinho para conseguir uma namorada, porque não tem mulher que gosta de metal, claro. História engraçadíssima. Aliás, organizador que quer chamar mais atenção que o diretor convidado fazendo piadinha machista dá vergonha alheia.


Assisti muita coisa boa, curtas incríveis, em especial dois nacionais: Caçador (dirigido por Rafael Duarte e Taísa Ennes Maques) e Nua por dentro do couro (dirigido por Lucas Sá). Vi todas as coisas grotescas que me divertem, revi uma galera que vejo todo ano no festival. Mas não posso mais tolerar uma seleção de filmes que não pensa sobre questões de gênero, que considera linda a exploração do corpo feminino, num sentimento de vingança de machinhos da friendzone.

O cara participa de toda uma cultura alternativa, foge de padrões normalmente na forma de se vestir e nos gostos artísticos, mas cai no machismo. Até nos meios mais underground a mulher ainda é objeto do gosto e prazer masculino. Até num gênero que quebra com hegemonias, que ressignifica arte e cultura de massa, ainda a exploração da mulher não é questionada. Chega, machinhos de qualquer tipo de gosto e cultura, o corpo da mulher não é de vocês!

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