sexta-feira, 31 de julho de 2015

era uma vez uma mulher que mudou

ilustração de Karina Buhr
Ontem ela era uma mulher que se dava o respeito
Hoje ela respeita todas as suas vontades e desejos
Ontem ela queria alguém pra suprir suas carências e anseios
Hoje ela é sua melhor companhia e quem chegar, que seja pra somar
Ontem ela tinha rivais, inimigas invejosas
Hoje ela tem irmãs de luta e militância
Ontem ela era infantil e reproduzia machismo
Hoje, madura, transborda feminismo
Ontem ela julgava mulheres
Hoje ela tem empatia com cada uma, ainda que não esteja na pele delas
Ontem ela exaltava firulas, jargões e títulos acadêmicos
Hoje ela valoriza vivências
Ontem ela era cheia de preconceitos
Hoje ela os desconstrói, ciente de que isso é um trabalho diário
Ontem ela se odiava
Hoje ela constrói, tijolinho por tijolinho, uma autoestima saudável
Ontem ela ria do cabelo da coleguinha
Hoje ela o admira, tão natural, brilhante e sem química
Ontem ela apontava o dedo
Hoje ela dá a mão
Ontem ela vivia cheia de máscaras
Hoje ela abraça a vida de cara limpa, ainda que doa
Ontem ela era muito acomodada
Hoje ela levanta e vai atrás do que quer, porque a vida não espera
Ontem ela buscava, a qualquer custo, a pessoa certa
Hoje ela sabe que somos todos errados em busca de quem nos aceite como somos
Ontem ela queria ser perfeita aos olhos dos homens
Hoje ela afirma, a plenos pulmões, que não é bibelô de ninguém
Ontem ela fazia de tudo pra segurar homem
Hoje ela dispensa, sem cerimônia, qualquer babaca
Ontem ela queria ter dinheiro, ser rica
Hoje ela deseja ter uma vida – em todos os aspectos – abundante
Ontem ela tinha medo de cortar quatro dedos de cabelo
Hoje ela manda passar a máquina seis
Ontem ela queria inteligência,
Hoje ela deseja sabedoria
Ontem já foi um personagem
Hoje ela é repleta de si mesma.

texto lindo da nossa nova linda colaboradora, Aline Xavier.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

10 situações machistas do cotidiano e como respondê-las com classe (ou não)

1 - “cantada”:

- às vezes só encarar olho no olho já resolve. Em geral, caras que fazem isso são covardes e nunca esperam que a gente faça algo.

- dá pra mandar tomar no cu também, é bem libertador.

- já usei algumas vezes uma resposta que considero mais classuda: “meu corpo não é público”.
Normalmente a criatura não entende na hora, mas eu sempre acredito que deixo o escroto com uma pulguinha atrás da orelha.



2 - Quando tu faz uma comida boa e alguém te diz “já pode casar!”:

- "não sabia que antes de casar a gente passava por um teste de culinária!"

- "tu quis dizer casar ou virar cozinheira de macho?"

- "já sou casada e a minha mulher sabe fazer a própria comida. Ela prefere que eu a satisfaça sexualmente mesmo."

3 - Quando alguém quer te elogiar e diz “como tu emagreceu!”:

- "emagreci? Que merda, eu tava tentando engordar. Peraí que vou lá comer um pote de nutella."

- "emagreci mesmo, estou muito doente."

- "tu te enganou, acabei de me pesar e estou 10 quilos mais gostosa."



4 - Quando tu conta pra alguém que terminou um relacionamento e a pessoa diz “não te preocupa, tu vai achar alguém”:

- "que bom que tu disse isso, essa era a minha maior preocupação na vida, agora fiquei mais calma."

- "aham, contratei um detetive particular pra achar essa pessoa da minha vida que está escondida por aí."

- "já achei: eu mesma!"



5 - Quando tu senta do lado de um cara em qualquer transporte público e ele fica com as pernas abertas ocupando mais espaço do que deveria:

- "com licença, minha bunda é maior que o teu saco, por isso eu preciso de todo o espaço do MEU banco."

- abre beeeem as pernas e sente-se como a dama comportada que tu é.

- "oi, tu tá sofrendo de inchaço escrotal? Não? Então fecha as pernas antes que essa passe a ser a tua condição depois de uma cotovelada."

6 - Na entrada do bar, o cara dá a tua comanda para o homem que estiver te acompanhando (o mesmo serve para a conta ser entregue pro cara ou qualquer situação semelhante):

- "ai que bom que tu me poupou de ter que passar a conta pra ele, assim já me livro de ter que pagar o que eu mesma consumo!"

- "pode entregar a conta pra mim, ele é um gigolô que eu contratei."

- "que bom que ainda existem verdadeiros cavalheiros que entendem que uma mulher não sabe lidar com dinheiro, consumo e cálculos!"

7 - Quando tu sai com um amigo/namorado/macho enquadrado em qualquer categoria e ele não bebe. Aí, quando chegam as bebidas, o garçom dá o teu chope gelado pro teu amigo e o suco de laranja dele pra ti:

- "só vou beber esse suco de laranja se tu trouxer uma dose de vodca pra acompanhar."

- "o chope é meu mesmo, resolvi testar como é ser homem por um dia."

- "o suco é do meu namorado, eu não deixo ele beber, que quando ele bebe acaba fazendo escândalo."



8 - Quando tu vai no cabeleireiro e resolve pintar o cabelo da cor mais louca que tem ali e alguém fala “mas teu namorado deixa?”

- "ele que mandou, é que ele tem fetiche com cabelo colorido."

- "a minha namorada não costuma interferir nas minhas escolhas."

- "não sabia que eu precisava pedir permissão pra ele! Tarde demais, agora já pintei até outros pelos, se é que tu me entende! hahaha"

9 - Quando tu sem querer foi parar naquela roda que só fala sobre dieta:

- "gente, descobri a melhor dieta do mundo: não comer nunca! Sério, não como faz uma semana!"

- "vocês sabem qual o mais novo alimento proibido? É que to fazendo uma lista das comidas mais gostosas! Até agora já tenho glúten, manteiga, açúcar, gema de ovo, lactose, massa, batata frita, cerveja, sal..."

-  tem ficar bem séria pra funcionar, aí fala isso: "eu fiz dieta a vida inteira e continuo insatisfeita e infeliz. Por que será?"

10 - Quando te perguntam: "Tu mora sozinha e não tem medo?":

- "não, meus vizinhos é que tem medo de mim."

- "morro de medo - de acordar um dia e perceber que foi apenas um sonho."

- "não, moro sozinha porque já matei o cara que vivia comigo."


Sharon Needles sabe das coisas: quando em dúvida, assuste-os!


segunda-feira, 13 de julho de 2015

nós queremos abortar

Por que é tão óbvio e necessário que uma mulher possa ter o direito de interromper uma gravidez que ela não quer? A gente preparou uma listinha rápida que pode te ajudar a entender esse assunto. Além de lutarmos para que a Sugestão Legislativa 15/2014 (que propõe a regulamentação da interrupção voluntária da gravidez pelo SUS até as 12 primeiras semanas) torne-se lei, é MUITO IMPORTANTE que a gente possa mudar um pouco o pensamento de algumas pessoas ao nosso redor. Ter o direito ao aborto é reconhecer que o corpo da mulher não pode ser controlado pela religião e pelo machismo. Ter o direito ao aborto é garantir o direito à vida da mulher, plena e livremente. 


1. Aborto é uma questão de saúde
Abortar é um problema de saúde pública no Brasil. Quanto mais existir repressão policial e investigação das clínicas e das mulheres que abortam clandestinamente (que é o que acontece hoje), mais inseguro serão os meios pelos quais as mulheres continuarão fazendo seus abortos. Quanto mais os hospitais privados (geralmente católicos) continuarem hostilizando mulheres que chegam doentes por terem se arriscado em procedimentos muitas vezes caseiros, mais serão as mulheres as culpadas por sua própria morte e vulnerabilidade. 

2. A mulher pobre e negra garante mais igualdade de direitos
Mulheres brancas e de classe média morrem menos em abortos clandestinos. A morte recai sobre a mulher pobre e negra, que aborta e adoece em condições subumanas. Então, é compromisso do Estado garantir que o atendimento da saúde pública viabilize a escolha das mulheres que não tiveram 2.000 pila pra pagar a clínica e ficar de boas, além de fazer terapia depois pra enfrentar o machismo e o pensamento cristão que vai te julgar. O Estado precisa garantir atendimento de saúde também psicológico à mulher que aborta, já que, graças a ele, o conservadorismo se reafirma e toca o terror nas mulheres que optam por interromper a gravidez.  


3. Escolher abortar liberta o corpo feminino
A legalização do aborto passa por um problema extremamente complexo, que está na base de todas as possíveis políticas públicas sobre o tema - o controle do corpo. Imagina viver num mundo em que as mulheres escolhem o que fazer com o corpo delas? Imagina o caos que vai ser se uma mulher engravidar e não quiser ser MÃE? Onde vão parar todas as crenças sobre a MÃE NATUREZA/ O DOM DE SER MÃE? Como vai ficar a indústria da mãe que cuida dos filhos e da casa e é supercompleta e feliz? Imagina toda uma nova possibilidade de pensar no mundo que uma política consistente sobre o tema traria? Quantas mulheres se tornariam menos vítimas de ideias abusivas sobre o sexo e a maternidade? 

4. Destrói a política da "maternidade obrigatória"
Ser mãe não é dever das mulheres. E isso infelizmente não é muito óbvio. Ser mãe não é algo natural. Não é algo necessariamente desejado. Aliás, mundo, é possível odiar ser mãe, sabia? Sim! É possível odiar seus filhos, como qualquer bom ser humano por aí odeia outro. E o que tem de mal nisso? Absolutamente nada. Porque ser mãe não tem nada de sagrado ou bonito. Mas infelizmente o Freud estava lá, pra cagar várias morais de pai e mãe. Além de todo um pensamento ocidental de origem e essência, que só serve pra matar gente e mais gente. 


5. Destrói a noção de que um filho é responsabilidade da mulher
Porque não adianta dizer por aí que a mulher já garantiu muitos direitos e que as coisas têm mudado, se o cara ainda se incomoda em usar camisinha, porque é "desconfortável" ou não é tão "prazeroso". Tem cara que tira a camisinha sem contar pra mina. Tem cara que não usa. Tem cara que estupra. Tem cara que some. Mas, pra além disso tudo, uma mulher que teve um filho não pode sair por aí sem que esse fato seja considerado sobre ela. Mas um cara que teve um filho, ah, é completamente diferente. Ele pode sair por aí e ser bem feliz e completo, sem que a "paternidade" interfira: na sua vida sexual, afetiva, financeira, trabalhista etc. Ou seja: uma mulher que é obrigada a ter um filho indesejado vai ter, pra sempre, que lidar com a "maternidade".Um homem que é obrigado a ser pai não necessariamente será apontado na rua como um "pai". 

A gente quer viver num mundo de mulheres livres e poderosas. E o Estado não pode mais privar o corpo feminino da liberdade e do poder em exercício. Nenhuma mulher quer sangrar sozinha, no escuro. Nenhuma mulher deseja se tornar uma clandestina. O documentário "Clandestinas" é lindo e nos ajuda a entender um pouco mais esse tema. Beijos e bora mudar alguns jeitos de pensar a vida, amigues. 


terça-feira, 7 de julho de 2015

parto, sexo e o corpo feminino

A partir dessa segunda (06/07), uma medida do Ministério da Saúde acabou por restringir um pouquinho os casos de cesárea no país, exigindo uma justificativa do médico para que o plano de saúde cubra a cesárea. (clap, clap pro Ministério da Saúde!).

E o que aconteceu? O velho chorume da galera que acha que isso vai obrigar todo mundo a fazer parto não cirúrgico. "Lá vem aquelas hippies do parto humanizado não me deixando fazer a minha cesárea." Claro que isso é coisa de gente desinformada e que não entende nada do que foi feito pelo Ministério da Saúde.



O que mais me impressionou não foi nem isso, mas a quantidade de comentário de homens e mulheres falando sobre o tal do alargamento da vagina, que agora as mulheres serão obrigadas a fazer parto normal e vão ficar "alargadas" e perder seus maridos!!







Por onde a gente começa? Tá tudo errado nessa lógica, minha deusa!!

Primeiro: vamos ver um especialista falando sobre o assunto?


Deu, resolvido, parto normal não causa afrouxamento eterno da vagina!! Principalmente se for um parto protagonizado pela mulher, em que ela escolhe quando e como fazer força, que posição que ela fica mais confortável, que não tem nenhum louco empurrando a barriga dela, puxando a cabeça do nenê, ou fazendo cortes desnecessários. Quer garantir a boa forma da tua vagina? Então defenda o parto humanizado!!



Segundo: digamos que, sim, o parto normal faz a vagina ficar gigante-boca-de-bueiro-buraco-negro-infinito, qual é o problema? O corpo inteiro da mulher muda, e ainda é tudo diferente de uma mulher para outra. Tem mulher que fica com estrias pelo corpo todo, tem mulher que não fica nem com um risquinho de estria. Tem mulher que fica com a barriga maior, a bunda gigante, o nariz redondo, perde cabelo, enche a cara de espinhas, ou tem mulher que não parece ter nada de diferente além de uma barriga redondinha e sai do parto como se nada tivesse acontecido. 



De quem é a preocupação do tal alargamento? É só ver num comentário ali em cima, em que uma pessoa diz que ouve isso de TODOS OS HOMENS CASADOS. Hmm, então quem se incomoda é o maridinho podre que quer ter filhos com a mulher, mas também não quer ver um sinal de gravidez na mulherzinha dele. A vagina é dele, ele que decide como ela deve ficar. Certo?? Claro que não!!!

E a mulher que tem medo de perder o marido por causa das mudanças no corpo, miga, presta atenção: se tu pensa que existe essa possibilidade do teu marido te deixar por causa disso, pensa bem se tu quer ter um filho com esse cara! Ou se tu quer ficar casada com alguém assim!!

A preocupação com a vida sexual é constante em casais que estão pensando em ter filhos. Ok, isso é normal. Mas, gente, é óbvio que a vida sexual muda! E isso não é ruim! Cada fase da vida, cada momento do relacionamento, cada decisão nossa pode trazer mudanças na vida sexual! Não existe um único jeito de ter uma vida sexual boa.


Esse pensamento joga em cima da mulher toda a culpa do possível fracasso da vida sexual. E que preocupação mais egoísta essa! Um bebê muda toda a rotina de um casal, com ou sem parto normal, com ou sem parto inclusive, porque se tu adotar um bebê a tua vida muda também! Tem tantas coisas pra se preocupar, pra mudar, pra pensar, a vida sexual tá ali junto com tudo isso, sofrendo mudanças e isso se chama vida, amigues! 

Isso tá parecendo a história do dad bod, em que se exige tudo da mulher e nada do homem. Em que a mulher tem que passar por mudanças mil e depois voltar ao "normal", enquanto o homem só fica ali de boa, assistindo a vidinha de camarote, mimado, exigindo agradinhos sem nenhum esforço. 

Vamos valorizar o mom bod, sim! Vamos falar do corpo feminino, vamos entender as mudanças no corpo, vamos apreciar a beleza que é uma mulher passar por tudo isso que uma gravidez exige, parir um ser humano lindo de dentro dela. Vamos entender que ter um filho implica um milhão de mudanças na vida.


Gente, tem que ler mais sobre o assunto, viu? Achei algumas coisas bem legais aqui!
Assistam ao documentário "Renascimento do parto"!

sexta-feira, 3 de julho de 2015

estupro a serviço do conservadorismo

Quem é contra a redução da maioridade penal provavelmente ouviu essa semana: "queria ver se tua mãe/irmã/filha/tu mesma fosse estuprada por um menor!!". Lindos argumentos esses que desejam estupro e morte para nos fazer mudar de ideia. Mas olha o estupro aí, enchendo a boca de quem sempre disse que a mulher é que pediu e provocou. Agora não é mais a mulher a culpada, então, é o "de menor"?

Estupro vai pra lá e pra cá, sendo facilmente usado pra acusar quem o conservadorismo estiver afim no momento. Antes da PEC da maioridade penal, estupro era uma coisa que quase não existia, ou, como já disse o Bolsovomito, algo que certas mulheres merecem.



Existem estupradores menores de idade? Claro que existem! Mas sabe quem são eles? Os playboys que estupram mina em festa e colocam culpa no comprimento da saia dela depois. Tu acha que esses são os adolescentes que serão presos com a redução da maioridade penal? É claro que não! Esses aí vão continuar abusando da mulher que eles quiserem, sem nenhuma consequência e essas mulheres ainda vão passar a vida sem nem perceberem que foram, sim, estupradas e que não pediram. 

A revista Superinteressante lançou sua última edição com a seguinte capa:


O mais acobertado dos crimes é o estupro. Sabe porquê? Porque a maioria da galera ainda não sabe o que é estupro. Se a gente quiser se irritar um pouco, podemos ir lá na página do Facebook da revista e abrir os comentários dessa capa. Só tem omi questionando as estatísticas, achando que é muito dizer que uma em cada cinco mulheres será estuprada. Pra quem acha que estupro só acontece de noite com o carinha que fica escondido atrás da árvore, aí, realmente, parece muito. Mas a maioria dos estupros acontecem dentro de casa. Tenho certeza que a maioria das mulheres que eu conheço já foi ou vai ser estuprada pelo namorado/marido/peguete. Estupro é forçar sexo TODAS as vezes que a pessoa NÃO quiser, não importa se tu já transou com a mina 500 vezes, se depois de 500 vezes ela falar não e tu continuar, isso é estupro.

Pra quem não entende, tá tudo desenhado e cheio de metáforas fáceis aqui:








A vítima nunca pede por estupro. NUNCA!! Tipo, nunca! Sério, NUNCA. Nada na roupa, no jeito justifica o estupro. Quem tá errado é SEMPRE (sempre mesmo, tipo, sempre, sério, sempre) o estuprador.

Usar agora o estupro como justificativa para a redução da maioridade penal é golpe baixo, não é argumento, é sujeira, é burrice. Não se enganem, a redução da maioridade penal NÃO vai diminuir os casos de estupro (ou de violência, em geral). Quem vai ser preso são guris pobres, na sua maioria negros, que não são os machinhos escrotos responsáveis pela maioria dos casos de estupro no país.

A série Orange is the new black (SPOILERS!!) tratou de sexo e consentimento na última temporada mostrando um pouco mais da vida da personagem Dogget. Ela é uma mulher que passou a vida sem entender como funcionava essa história de consentimento e achando que sexo era ruim para a mulher, era algo que os homens queriam e as mulheres tinham que aguentar. Ela achava que toda vez que um cara dava alguma coisa pra ela, a sua obrigação era servir de escrava sexual dele. E ela ainda defendia os caras, dizia que ela provocava, que homens são assim mesmo, tem instinto e as mulheres é que precisam se cuidar. 


Infelizmente isso não é só coisa de série, olha quanta gente que pensa como ela:




Em qualquer caso de estupro, sempre tem alguém para perguntar sobre a roupa da vítima, ou se ela tinha bebido. Se o cara que estuprou for marido ou namorado, aí a maioria das pessoas nem cogita a possibilidade de ter sido estupro. Afinal, é coisa de casal, eles que se entendam, o cara ama ela:

fala do guarda da prisão durante o estupro

Deu pra entender o esquema? Depois de se aprovar a redução da maioridade penal, estupro vai voltar a ser culpa da mulher. Daqui a pouco pode ser usado pra culpar alguma outra pessoa, dependendo do que se está querendo provar. Portanto, repitam comigo:

- O ESTUPRO NUNCA É CULPA DA VÍTIMA
- REDUZIR A MAIORIDADE PENAL NÃO VAI DIMINUIR OS CASOS DE ESTUPRO

#nãoàredução
#reduçãonãoésolução

quarta-feira, 1 de julho de 2015

o que aprendi com Nina Simone

Recentemente foi lançado pela Netflix um documentário sobre a Nina Simone. Assisti ontem e estou juntando meus pedacinhos pelo chão até agora.


Eu não sabia muito sobre a vida dela e normalmente não me interesso por biografias de artistas, mas a Nina foi a mulher mais incrível desse mundo e vale a pena ser destruída pela violência, paixão e sinceridade com que ela viveu e aprender uma ou cinco coisinhas sobre a vida:

1 - Aprendi sobre liberdade


Não só uma definição bonita de liberdade, mas o que significa sentir-se livre e como isso é quase impossível. Querer liberdade e praticá-la custa um preço alto. Ninguém aguenta a liberdade do outro, especialmente de uma mulher, de uma mulher negra. Como não ter medo quando tudo ao nosso redor tenta nos controlar e diminuir? A Nina foi forte, mas sempre teve medo. Talvez a liberdade da mulher seja essa eterna busca.

2 - Aprendi sobre transbordar o relacionamento abusivo




O marido da Nina Simone foi como muitos maridos por aí: controlador, agressivo, violento. Ele organizou toda a carreira dela, a fez trabalhar muito mais do que ela queria, bateu nela, tentou diminuir a mulher que ela era. A Nina não era uma coitadinha vítima do marido, ela tensiona isso o tempo todo. Toda a sua potência de criação existiu junto com controle, patriarcado, carreira comercial, fama, machismo. O marido dela é o exemplo perfeito de homem que parece fazer muito bem para a mulher: ele controla os ataques dela, ele organiza a vida dela, ele ajuda ela a ter dinheiro e muitos bens materiais. Ah, e ele trata ela como uma propriedade. E ela segue cantando, lutando, criando.

3 - Aprendi que temos o dever de lutar pelo que acreditamos



E esse lutar e acreditar não se referem a mim como indivíduo egoísta e meus sonhos de carreira e vida sem senso coletivo. Lutar pelo que a gente acredita deve servir para rasgar esse indivíduo e ser "desviada" mesmo, desviada do padrão, do que esperam de ti, das obrigações que foram forçadas em ti. Te desvia, miga, transborda, quebra, rasga.

4 - Aprendi sobre violência



Ser contra a "não violência" e o ideal de "paz e amor" é como quero viver a minha vida. É como a Nina viveu sua vida. Paz, não violência, mais amor se referem a quê? Que tipo de violência é negada quando usamos o discurso de paz e amor? A violência da Nina Simone é negada, a violência da luta dos direitos civis dos negros americanos e mississippi goddam é negada, a violência da resistência é negada. A Nina me ensina a ser violenta do jeito mais bonito.

5 - Aprendi sobre sinceridade




Sinceridade não é falar a verdade e ser moralmente correta. Ser sincera é ser verdadeira consigo mesma o tempo todo, até na mentira. É saber que não existe essa dualidade de verdade x mentira, existe só criação de si. É dar medo nas pessoas ao nosso redor de tanta sinceridade que explode de nós. É não controlar cada impulso, porque ser impulsivo é feio, é agir duas vezes antes de pensar. É saber que ninguém aceita essa honestidade, é perceber cada dia mais o preço da honestidade. 

Nina rainha, deusa, diva, artista, mulher, negra, ativista. O mundo inteiro tem muito o que aprender.