quarta-feira, 1 de julho de 2015

o que aprendi com Nina Simone

Recentemente foi lançado pela Netflix um documentário sobre a Nina Simone. Assisti ontem e estou juntando meus pedacinhos pelo chão até agora.


Eu não sabia muito sobre a vida dela e normalmente não me interesso por biografias de artistas, mas a Nina foi a mulher mais incrível desse mundo e vale a pena ser destruída pela violência, paixão e sinceridade com que ela viveu e aprender uma ou cinco coisinhas sobre a vida:

1 - Aprendi sobre liberdade


Não só uma definição bonita de liberdade, mas o que significa sentir-se livre e como isso é quase impossível. Querer liberdade e praticá-la custa um preço alto. Ninguém aguenta a liberdade do outro, especialmente de uma mulher, de uma mulher negra. Como não ter medo quando tudo ao nosso redor tenta nos controlar e diminuir? A Nina foi forte, mas sempre teve medo. Talvez a liberdade da mulher seja essa eterna busca.

2 - Aprendi sobre transbordar o relacionamento abusivo




O marido da Nina Simone foi como muitos maridos por aí: controlador, agressivo, violento. Ele organizou toda a carreira dela, a fez trabalhar muito mais do que ela queria, bateu nela, tentou diminuir a mulher que ela era. A Nina não era uma coitadinha vítima do marido, ela tensiona isso o tempo todo. Toda a sua potência de criação existiu junto com controle, patriarcado, carreira comercial, fama, machismo. O marido dela é o exemplo perfeito de homem que parece fazer muito bem para a mulher: ele controla os ataques dela, ele organiza a vida dela, ele ajuda ela a ter dinheiro e muitos bens materiais. Ah, e ele trata ela como uma propriedade. E ela segue cantando, lutando, criando.

3 - Aprendi que temos o dever de lutar pelo que acreditamos



E esse lutar e acreditar não se referem a mim como indivíduo egoísta e meus sonhos de carreira e vida sem senso coletivo. Lutar pelo que a gente acredita deve servir para rasgar esse indivíduo e ser "desviada" mesmo, desviada do padrão, do que esperam de ti, das obrigações que foram forçadas em ti. Te desvia, miga, transborda, quebra, rasga.

4 - Aprendi sobre violência



Ser contra a "não violência" e o ideal de "paz e amor" é como quero viver a minha vida. É como a Nina viveu sua vida. Paz, não violência, mais amor se referem a quê? Que tipo de violência é negada quando usamos o discurso de paz e amor? A violência da Nina Simone é negada, a violência da luta dos direitos civis dos negros americanos e mississippi goddam é negada, a violência da resistência é negada. A Nina me ensina a ser violenta do jeito mais bonito.

5 - Aprendi sobre sinceridade




Sinceridade não é falar a verdade e ser moralmente correta. Ser sincera é ser verdadeira consigo mesma o tempo todo, até na mentira. É saber que não existe essa dualidade de verdade x mentira, existe só criação de si. É dar medo nas pessoas ao nosso redor de tanta sinceridade que explode de nós. É não controlar cada impulso, porque ser impulsivo é feio, é agir duas vezes antes de pensar. É saber que ninguém aceita essa honestidade, é perceber cada dia mais o preço da honestidade. 

Nina rainha, deusa, diva, artista, mulher, negra, ativista. O mundo inteiro tem muito o que aprender.


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