terça-feira, 15 de setembro de 2015

mulheres que amamos: Liv Ullmann

Eu sou apaixonada pelo cinema do Ingmar Bergman e pelos filmes dele conheci a Liv Ullmann.


Essa mulher é muito maravilhosa. Linda, linda demais. Atriz sensível, inteligente. Não tem olhar igual ao dela. 

E essa diva incrível tem um livro chamado "Mutações". É uma autobiografia. Comecei a ler esse livro faz tempo e não terminei. Hoje abri na página em que eu havia parado e li o seguinte trecho:

Uma coisa aprendi.
Que um marido é uma espécie de álibi para a mulher. Não importa o que ele é de verdade, por trás do pano.
Ele pode ser gordo, estúpido e velho, mas se sente no direito de criticar o corpo flácido da mulher e sua menopausa, e sempre encontra simpatia, quando a troca por outra mais jovem. O mesmo vale para a vida profissional. Como para a particular.
Houve períodos em que vivi na situação desprotegida de mulher solteira ou divorciada. Fui a mulher que todos sabem que "não tem ninguém".
Um homem pode ir a um restaurante sozinho, à noite, mas eu não posso fazer o mesmo e evitar: a) críticas; b) o oferecimento de companhia masculina na qual não estou interessada; c) causar pena.
Ao discutir meu salário, pedi o mesmo que um colega homem. Embora tivéssemos trabalhado em teatro o mesmo número de anos, disseram-me que ele deveria ganhar mais do que eu, porque sustenta uma família. Eu, que tenho uma filha, uma casa e responsabilidades, não estou na mesma categoria. Porque sou mulher.
Sou o apoio de minha família, mas não tenho ajuda gratuita em casa, sob forma de uma esposa, como ele tem.
Em casos de divórcio, o marido, com maior frequência, tem a possibilidade de escolher.
A mulher é levada a se sentir culpada, quando quer ou precisa trabalhar e deixa outras pessoas tomarem conta de seu filho. Porque é mulher, e a criança precisa dela, em casa. Como ele é homem, é normal que dê atenção prioritária à sua profissão.
Quando o homem e a mulher não se casam, é ela a mãe de um filho ilegítimo.
É dela a responsabilidade. Tem de sacrificar dezoito anos de sua vida para o que é melhor para a criança. Ela tem de recusar trabalho e contato com outras pessoas, quando não pode pagar por ajuda ou obtê-la. Tem de correr para casa e ser pontual, porque sabe que qualquer pessoa que ajuda irá embora, caso se sinta explorada.
Penso em minha pensão e fico imaginando como se ajeitam as mulheres que não podem manter os filhos, mas têm de depender do que um homem considera uma soma razoável para seu sustento.
Tenho amigas que passaram um ano sem sair de casa à noite, porque ficavam exaustas com sua dupla responsabilidade: a pressa para manter os horários, o sentimento de culpa, a falta de sono. Elas eliminam a necessidade de contato emocional com outras pessoas, além de seus filhos, esperando uma oportunidade futura, quando poderão dormir, descansar, ter um dia só para si.

Esse texto é da Liv Ullmann, mas podia ser meu, ser teu, ser de qualquer mulher, especialmente de qualquer mãe. Ser mãe não é natural para toda a mulher, ser mãe não é só amor, ser mãe não é obrigação da mulher. Vamos parar de romantizar o sujeito-mãe, ao mesmo tempo que oprimimos o sujeito-mulher.

Esse texto da Liv me deixou triste porque pensei primeiro "que merda, até essa mulher maravilhosa da Liv passa por isso!!". Mas depois me dei conta de uma coisa linda: "até a Liv, essa mulher maravilhosa, está junto comigo, sabendo e sentindo o que eu e outras mulheres sentimos". Ter a Liv do nosso lado é reconfortante. 


Quer amar ela como eu? Assiste "Sonata de outono", "Persona" e "Gritos e Sussurros". E lê o livro "Mutações". Ela dilacera nossa alma. 

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