quarta-feira, 28 de outubro de 2015

chega de abaixar a cabeça

Esses dias, eu e a Raquel (a outra escritora desse blog), passamos uma tarde linda caminhando por aí, aproveitando o sol, indo nas livrarias e lojinhas que a gente gosta, em cafés fofos que só a gente conhece, conversando sobre tudo e divando pelas ruas. Uma tarde puro amor e liberdade entre amigas lindas que se amam. Quase no finzinho dessa beleza de tarde, estávamos voltando para nossas casas e aconteceu o seguinte:


Logo na nossa frente, na calçada, um grupo de mais ou menos cinco homens conversava alto, bebia cerveja, fazia piadas e ria muito. A medida em que nos aproximamos do grupo, ficamos cada vez mais quietas e chegamos mais perto uma da outra. Os caras continuaram rindo muito, e abriram um pequeno espacinho pra gente passar por eles. Na nossa frente, tinha um corredor de homens barulhentos, que ocupavam o espaço como se fossem donos da rua e davam a impressão de serem enormes. A gente passou pelo meio deles em silêncio, encolhidas e com a cabeça baixa. Logo que passamos, levantamos a cabeça, nos olhamos e nos demos conta do absurdo que foi isso. Nós abaixamos nossas cabeças, nos encolhemos e ficamos em silêncio para passar no meio de caras.



Para a grande maioria das pessoas, esses caras não fizeram nada e nós é que fomos exageradas. Eles realmente não nos falaram nada e mal olharam pra nós. Mas o que é que fez a gente, sem combinar, agir assim diante deles? O que nos fez sentir automaticamente que tínhamos que nos encolher diante de homens? O que faz duas mulheres lindas e maravilhosas e feministas, que passaram uma tarde empoderadora andando por mil lugares, abaixarem suas cabeças e ficarem em silêncio para passar por caras??

O que nos fez agir assim foi o medo, o machismo que existe em cada momento das nossas vidas. Foram as experiências anteriores de assédio. Foi a linguagem corporal dos caras que inflaram e gritaram mais ainda quando nos aproximamos. Foi a certeza de que se a gente olhasse para um deles, nós ~daríamos~ motivo para ouvir alguma piadinha, ou algo muito pior. Foi o medo de homens mais velhos que nós, que nos olham como menininhas vadias (assim como aqueles que olham para Valentina).

Entendam bem essa situação, os caras realmente não precisavam fazer muita coisa. Eles podiam ser caras super legais. Um deles pode ser teu colega de trabalho que te admirou quando tu escreveu sobre o teu #primeiroassédio. Outro pode ser teu amigo que se acha "feministo". De repente, teu pai estava lá naquele corredor de homens barulhentos. Talvez, tu, caro homem leitor, já esteve num corredor ameaçador desses e nunca te deu conta. Não importa o quanto tu acha que ~não faz nada~. Um olhar pode ser violento, uma risada, a tua presença na rua, homem, já é uma possibilidade de ameaça para uma mulher que vive todos os dias com medo de assédio.


É isso mesmo que uma mulher passa andando na rua. E temos que continuar repetindo isso, porque muita gente ainda não entendeu a gravidade da situação. Por mais que eu e a Raquel sejamos mulheres que escrevem sobre machismo, que tentam ajudar outras mulheres com situações de assédio, por mais que tenhamos amadurecido e nos fortalecido nos últimos anos, nós ainda sentimos o medo que nos faz encolher nossos corpos diante dos homens, ainda sentimos que precisamos tentar passar despercebidas, ainda sentimos culpa por sermos mulheres.

Enfrentar assédio, fazer um escândalo, não abaixar a cabeça, nunca ficar em silêncio. É isso que devemos fazer. E esse é um trabalho diário. Todos os dias precisamos nos lembrar de quem somos e da força que temos. Precisamos nos lembrar que não somos sujas, não temos culpa, não estamos a serviço dos homens. O nosso corpo é nosso, sempre, em qualquer lugar. Chega de abaixar a cabeça.


Um comentário:

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