sexta-feira, 27 de maio de 2016

7 atitudes simples para romper com a cultura do estupro

O fato irrevogável de se dizer "homem" nesse mundo já viabiliza milhares de modos de agir por vias sexistas, opressoras e violentas em relação às mulheres. Desde o modo de sentar, apertar a mão ou o modo de olhar, até as cenas mais literais como falar do corpo das mulheres, virar a cabeça na rua pra ver uma mulher que passa e mais milhares de estupros cotidianos escrotos, sobre os quais somos submetidas em casa e nos espaços públicos. Por isso é preciso falar sobre a cultura do estupro.
Separamos dicas bem simples, pra homens e mulheres que pela primeira vez estão pensando no tema:

1. Sobre dizer pra uma adolescente "como cresceu, tá um mulherão".
Toda a vez que um professor, um pai, um vovô, um titio diz isso para uma adolescente, ele está assediando essa adolescente. E não tem "mas..." pra isso. É assédio e ponto. Aceita que dói menos. Falar que uma menina já "parece uma mulher" é colocá-la na posição de que já pode se tornar um objeto a ser consumido, destruído, deformado pelo olhar masculino. Tu, como homem, não tem o direito de falar ou pensar no corpo de uma mulher - pra fazer piadas sobre como tu acha ela esquisita ou feia, ou pra tecer o teu escroto e suposto "elogio": seja ela uma adolescente, uma senhora ou uma adulta da tua idade. O corpo da mulher é da mulher e isso não te diz respeito. 


2. Sobre dizer pra uma criança "essa vai dar trabalho pro pai".
Pra começar, isso é parte da cultura da pedofilia. Isso significa dizer que uma criança, uma menina, mesmo que bem jovem, já é e vai ser um objeto para os homens. Isso é objetificar uma criança. Isso é derramar um esgoto imundo sobre uma menina. E essa frase tem duas partes: 1. dar trabalho, ou seja, vai ser mais uma mulher digna de estupro um dia (ao mesmo tempo em que já está sendo, na infância); 2. pro pai: ou seja, pro homem, né, afinal de contas, a filha é dele, é a "mulher dele", desde pequena. Enfim, nojo infinito dessa frase, dita por homens e mulheres.


3. Sair do grupo machista do whatsapp.
Não adianta bancar o desconstruído mas ficar no grupo machista do whatsapp, em que fotos de mulheres, piadinhas sexuais, raciais e homofóbicas circulam. "Ah, mas fico ali pra fazer o contrapeso". Cara, não vem com essa. Estar num grupo deles significa assinar que tu é conivente com isso. Quer fazer o contrapeso? Quer ser consciente? Sai do grupinho do whatsaap, chama teus amigos pra uma conversa olho no olho e conta pra eles o quanto eles contribuem para que a menina estuprada por 33 caras seja estuprada também por eles, naquele grupinho de merda. "Ah, mas é difícil conversar olho no olho." Sério? Beleza, identificamos mais uma pauta pra tu pensar sobre a tua vidinha medíocre com teus amigos. E tem mais: para de levar tudo na brincadeira e viver a superficialidade da conversa em que inúmeros preconceitos ficam estabilizados na dimensão do riso. Chega do riso que legitima a violência. 

4. Escutou machismo, racismo, homofobia, lesbofobia? Responda. Impeça. Diga não!
Não se cale. Não silencie. Não fuja. Não diga "não to a fim de me incomodar". Se tu é um homem, pode ter certeza, tu NUNCA te incomodou na vida. Quem se incomoda é mulher negra, mulher lésbica. Por todos os teus privilégios, tu deveria te sentir incomodado pelo menos 5 minutos por dia. Não te sentiu incomodado hoje ainda? Isso significa que hoje tu contribuiu pra que muita merda se perpetuasse no mundo - porque pode ter certeza, uma mulher foi incomodada hoje - pra dizer o mínimo. Não se fica quieto diante de machismo, racismo, homofobia, lesbofobia. Se tu identifica esse tipo de atitude, precisa dizer, precisa demarcar que não concorda, que é absurdo, que não vai contribuir com isso. Diga não, todos os dias. DIGA NÃO.


5.  Não acredite na ideia de que "ele faz piadas machistas mas no fundo é gente boa".
Taí uma coisa que muita gente não entende. Não existe isso de ele é racista mas é um cara legal, meio perdido só. Não existe. Um racista não é uma pessoa legal. Um machista não é um cara legal. Um homofóbico não é legal. E isso não significa que essas pessoas não possam aprender. Ao contrário, queremos acreditar que sim, que é possível se transformar e ser melhor pra si e pros outros. Mas enquanto a pessoa está dizendo isso, NÃO, ela não é "do bem", "ingênua" e "querida, apesar dos pesares". Ela segue mantendo uma cultura que mata, estupra, violenta, criminaliza, ofende, fere, machuca MILHARES de mulheres. Esse teu amigo machista NÃO é uma pessoa legal até que seja. Melhore. 

6. Desfaça amizades que não buscam transformar suas ideias. 
Se tem uma coisa que liberta nessa vida é acabar com amizades tóxicas. Digo por experiência própria. Se tu tem paciência de conversar com teu amigo reaça, opressor, manipulador e explicar pra ele que essas atitudes não vão bem e, mesmo assim, a pessoa não quer te ouvir, continua zombando das dores dos outros, continua te enviando fotos e vídeos de mulheres nuas, continua chamando de gostosa ou de baranga a colega de trabalho, não tenha dúvidas: desfaça essa amizade. Ela não te traz transformação, ela não afirma uma vida por mais igualdade, ela não é boa pra ninguém. Ninguém é obrigado a ensinar pra um fascista que ele tá completamente errado. Vai procurar parcerias que te fortaleçam!


7. Destrua o "conceito" de homem que todos ensinaram a ser. 
Te ensinaram todos os dias o que é ser homem. E tu ensina pros outros que ensinam pros outros. Te disseram que tu no máximo ajuda no serviço da casa. Te disseram que tu é Gremista ou Colorado. Te ensinaram a ir num estádio e fazer um churrasco pautado na imbecilidade de quem não sabe falar sobre qualquer coisa além das mulheres que tu comeu ou comeria. Te ensinaram a não ver que comer carne e ser machista tem TUDO a ver. Te ensinaram a não saber usar as palavras. Te ensinaram a cumprimentar teu amigo chamando ele de puto ou viado de um jeito carinhoso assim, de brother. Te ensinaram a falar a patroa é quem diz a última palavra ou lá em casa eu digo a última palavra: sim senhora. Te ensinaram que se tu tiver uma filha tu vai ser o fornecedor. Te ensinaram a não ouvir quando uma mulher fala e, quando escuta, vai dizer que é DR ou sermão. Enfim, te ensinaram a não ser uma pessoa - te desumanizaram e tu vive o privilégio que encontra nisso. E o que tu faz agora? Começa a pensar em ser uma pessoa. Sabe tudo isso e muito mais? Quem sabe tu começa a analisar todas as formas de ser homem que estão entranhadas na tua vida e passa a te humanizar, passar a ser o contrário disso tudo?

Eu acredito na transformação de algumas pessoas.