segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Ele não era "louco", ele era machista.

Faz só dois dias que entramos em 2017 e hoje mesmo eu ouvi de um cara que a Lei Maria da Penha beneficia demais as mulheres - sim, ainda existe homem dizendo isso. Ele mesmo foi indiciado pela mulher porque ligou pra ela informando que ia 'invadir' a casa pra ver o filho (ele não teve nem a capacidade de dizer de outro jeito).
Em Caxias do Sul/RS, uma mulher de 37 anos foi estuprada por NOVE homens na virada do ano, por conta de dívidas do ex-marido, mas o jornal Pioneiro, olha aqui, deu a matéria como SUPOSTO ESTUPRO. Suposto! Até quando? Casamentos abusivos, até quando?
Um homem assassina a mulher, o filho e a família dela, escreve uma carta machista, misógina, feminicida e o que que acontece? A gente continua lendo a carta, que se multiplica nos comentários de outros milhares de homens que escrevem e se comportam exatamente como o assassino.

Não vou reproduzir aqui todos os comentários que estavam colados nesse próprio print, mas eles, infelizmente, estão por toda parte, em qualquer das reportagens

Não preciso nem listar todas as mortes e estupros de mulheres só em 2016, aquelas que ficaram bem famosas pelos níveis hediondos de crueldade e "loucura" dos homens assassinos. Empalamentos, estupros coletivos, facadas, degolamento. Cada um dos comentários acima relembra e revive a morte de todas essas mulheres que foram assassinadas por homens pelo fato de serem mulheres. Edmilson diz "não sei se ele está certo ou errado, também já tive vontade de matar..." André Luiz "Maria da Penha é falha! Homens tbm são vítimas..." é tão triste e chocante perceber que é isso o que grande parte dos homens pensa: "eu também sou vítima". Vítima do quê? 


Homem não é assassinado por grupos de mulheres estupradoras. Homem não é empalado, esfaqueado porque estava esperando um filho. Esses homens se sentem vítimas porque não podem mais, tão facilmente, assassinar uma mulher sem que ela lute pela vida; esses homens se sentem vítimas das feministas que lutam para que, como mulheres, possamos viver. Porque eles são os homens que sequer gostam de mulheres, como bem escreveu a Mari aqui.  

Todos esses homens que comentaram atrocidades a respeito dessa tragédia feminicida multiplicam a carta do assassino. Todos esses homens, todos os dias, multiplicam comportamentos machistas, abusivos, agressivos contra mulheres. São os mesmos comentários de vários caras que entraram nesse blog mesmo, pra destilar ódio e machismo. São os mesmos comentários dos homens da tua família, dos teus colegas de trabalho, de todos aqueles que cruelmente seguem repetindo e acreditando que uma mulher "pede" pra ser estuprada; que o problema do feminismo são "as feministas"; que o problema é "ver machismo em tudo"; que as mulheres, a Dilma, a Maria da Penha, eu, minha vó, tua mãe, tua filha são todas umas vadias e que o homem é a verdadeira vítima de tudo isso. A gente sabe o que significa um misógino dizer isso. Não é o mesmo que escreveu a Clara, maravilhosa, aqui.  São exatamente os mesmos caras que não assumem o filho quando uma mulher engravida. Que abandonam, fogem ou, pior, talvez, vivem junto com a mulher, no velho e acabado matrimônio tradicional, à base de violência, como bem disse a nossa musa maravilhosa, Monique Prada:


Os crimes que têm acontecido não são uma "loucura". Loucura é estarmos vivas e fortes, ainda, apesar de todas as expressões de ódio, aniquilamento, descrédito, dúvida em relação à mulher como o outro a que se quer extinguir. Vamos parar com isso de dizer que machismo não é tão grave assim e que feminicídio é "loucura". Que não tenhamos descaso com o que produz violência de gênero.


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