quarta-feira, 20 de maio de 2015

a bendita autoestima

A coisa mais importante da minha vida foi ter vencido a minha baixa autoestima. Tudo mudou, eu sou mais feliz, mais forte, uma pessoa melhor pra mim e para os outros. Se sentir bem na própria pele é tudo que a gente pode querer conquistar na vida, porque depois disso o resto fica muito fácil. É um processo longo e difícil e não é igual pra todo mundo, mas vou tentar contar aqui o que eu fiz e passei pra chegar nesse momento "paz e amor" comigo mesma.



Como a maioria das meninas, eu passei a adolescência me odiando. Eu me achava feia, gorda, burra, inútil, alguém que não merecia e não recebia amor, que não seria nada na vida, um fracasso. É pesado lembrar o quanto eu me odiava, mas era assim mesmo e sei que eu não sou a única guria que passou grande parte da vida com a autoestima arrastando no chão.

Meu maior problema era me achar gorda, mas emagrecer também adiantou de nada. Eu nunca me vi magra, nem em momentos que eu realmente fui magra. Eu diria, então, que meu problema não estava exatamente no tamanho da minha bunda e nos pneus na minha barriga.

Eu me achava burra também. Eu via as minhas amigas tirando notas mais altas que eu no colégio e eu me sentia medíocre perto delas. E meu namorado, então, ele também era mil vezes mais inteligente que eu. Ele lia mil livros por ano, entendia tudo, discutia sobre tudo. Além de todo mundo na volta dele só falar pra ele o quanto ele era incrível, inteligente, lindo, querido, e me falarem o quanto eu tinha sorte de ser namorada dele. E eu me apegava a essa sorte grande que eu tinha tirado e morria de medo de perder meu troféu.

Eu tinha também um outro dilema: eu achava que não tinha amigos de verdade. Mesmo rodeada de pessoas, eu sentia que eu não fazia diferença nos grupos, que eu era substituível. Claro, alguém com a autoestima tão baixa quanto a minha só pode pensar que nada tem a acrescentar aos amigos.

Ok, vamos lá, criatura, vamos superar essas merdas.



A primeira delas foi a burrice. Isso mudou na faculdade. Eu tive sorte de estudar algo que eu realmente gostava e entendia. Eu estudei muito, escrevi muito, tirei ótimas notas, aprendi a escrever artigos e pesquisar e não quis mais parar. Aprendi a valorizar minha escrita, minha produção, também porque tive uma professora incrível que depositou uma confiança enorme em mim. Mas eu aprendi, principalmente, que inteligência não tem nada a ver com notas e que a gente pode  (e deve) desvincular isso de uma instituição.

Ok, primeira neura vencida: eu sou inteligente!

Em relação aos amigos, eu lembro de ter mudado algo em mim quando morei fora do país. Passei um ano em Dublin e recebi mil mensagens de amigos toda semana dizendo o quanto eles estavam com saudade de mim. Isso me surpreendeu muito, porque eu tinha aquela lógica infalível de que eu era substituível. Mas olha que a galera sentiu minha falta. E me disseram isso mil vezes! E eu fui obrigada a largar essa teoria super bem elaborada de que ninguém me amava, tive que admitir que eu era uma boa amiga, uma amiga importante pra muita gente.

Segunda piração adolescente superada: não sou substituível, meus amigos me amam!

A última e mais difícil foi a aparência. Essa é uma superação diária, mas considero que agora estou super bem em relação a isso pela primeira vez na minha vidinha. Além de ser a mais difícil de superar, é a mais complicada de contar como eu consegui, mas vou tentar (claro, porque o texto tá tri curto e ainda vou escrever 200 parágrafos, MUAHAHAH!).

O momento mais crítico em relação a minha aparência foi o ano do meu casamento. Se mulheres já sofrem com padrão de beleza em qualquer momento da vida, imagina no casamento!! É muito foda. Noiva tem que ser magra, o dia do casamento tem que ser o dia na vida que tu tá mais linda, mais maravilhosa. E tu ainda tem que usar um vestido branco!! E tirar mil fotos!! Fotos que vão te assombrar pro resto da vida se tu não tava absolutamente diva, ou seja, magra. Eu casei em outubro, mas comprei meu vestido de noiva em fevereiro, logo depois de uma dieta louca pra ficar magra pro verão (ai, ai). Portanto, comprei o vestido em um daqueles momentos de magreza (mesmo ainda achando que eu era uma bola rolando por aí), um daqueles momentos que não duram muito tempo. O vestido ficou certinho, tendo ainda que soltar 1 cm pra servir melhor. O meu plano era emagrecer esse 1 cm. 



Pois então, foi um ano inteiro em pânico. Fiz as dietas mais loucas, corria todos os dias, fazia drenagem linfática duas vezes por semana. Chorava de desespero pensando que eu seria a noiva mais feia e gorda que já existiu no mundo. Por mais que eu fizesse esses dietas todas, eu não conseguia emagrecer. Claro, com 26 anos a gente não emagrece mais como com 18. Meu corpo não conseguia mais, não diminuía e meu medo de comida só aumentou. Até que tudo que eu comia, por acaso me deixava enjoada. Enjoada a ponto de vomitar. Aham, comer me dava vontade de vomitar, vontade mesmo, não é que nem aquilo que se vê em filmes com adolescentes bulímicas que colocam o dedo na garganta pra vomitar. Não, eu vomitava "naturalmente". Felizmente eu me dei conta do horror que isso era. Chegou o dia do meu casamento e eu tinha conseguido manter o peso de fevereiro, mas casei de tomara-que-caia com meus bracinhos gordinhos e minhas dobrinhas nas costas (que escândalo!!), bem orgulhosa, bem linda, um pouco bem resolvida.

Tomei a decisão consciente de nunca mais fazer dieta. Faz um ano e meio que cumpro isso e me fez muito bem. Claro, pra quem não sabe nada sobre mim e só vê os quilos que eu ganhei nesse tempo, vai obviamente pensar que eu só piorei. Até visualizo umas criaturas dizendo "bah, a Ananda embarangou!". Mas uma das coisas mais legais de realmente se sentir bem consigo mesma é cagar pra essas pessoas e até sentir pena de tanto recalque.

Não foi fácil cumprir essa promessa. Eu realmente engordei muito. Mas aprendi com a Sophie Deram que isso é normal, que depois de passar anos e anos fazendo dietas mil, o corpo entende que tem que comer tudo que vê pela frente. E realmente o meu apetite era infinito, eu comia muito porque tinha mesmo muita fome. Aí, quando comecei a engordar e passar do tamanho que me parecia tolerável pra mim mesma, aí é que começou o trabalho árduo de se amar com gorduras e estrias novas. Mas eu confiei no meu corpo, confiei que era isso que eu precisava. Foi tipo uma desintoxicação de dietas. Depois de um ano sem dieta, meu apetite diminuiu naturalmente e eu, finalmente, aprendi o quanto eu preciso comer pra me sentir bem alimentada e feliz.

A medida em que eu ia engordando, eu vi que nada mudava na minha vida. Todas as pessoas (que realmente importavam) gostavam de mim do mesmo jeito, eu ainda podia fazer as mesmas coisas, ir aos mesmos lugares, estudar, trabalhar, me maquiar e me sentir bonita. Claro que comprar roupa ficou mais difícil, mas isso também me ajudou a ser menos consumista, a pensar mais sobre cada artigo de roupa que eu comprava, a procurar lojas e estilos que realmente tinham a ver comigo, e não simplesmente comprar uma roupa porque tava na moda e me servia. Eu, acima de tudo, aprendi a me respeitar.


Tem muita gente ao nosso redor que faz com que a gente se sinta menos. Eu tive uma amiga que se achava tão bem sucedida que chegou a me dizer que "um dia eu ia chegar lá" como ela. Essa galerinha escrota sempre vai existir e sempre vai falar merda. A gente tem que saber rir da cara delas e ser feliz com as nossas escolhas. 

A gente não pode controlar o que os outros pensam de nós e não devemos nos preocupar com isso. Se a fulaninha lá acha que tu é gorda/feia/burra, que diferença isso faz na tua vida?? NENHUMA! Saber disso é libertador!!

As coisas que eu passei e a forma como superei são particulares, têm a ver com a minha trajetória de vida e alguém pode estar se perguntando como que vai superar essas coisas se baseando em um relato tão pessoal. Bom, existem algumas outras decisões bem práticas para se sentir melhor consigo mesma:

- para de dizer como tu ficou um monstro gordo e podre em cada selfie que tu tira com as amigas. Mesmo que tu pense isso, fica quieta, aguenta. Uma hora isso vai ser verdade, tu realmente vai olhar pras fotos e não se importar tanto se teu braço ficou grosso, tua bochecha redonda, tuas olheiras escuras.

- não lê mais nenhuma revista "feminina", tipo Nova, Cláudia, Boa Forma etc. Isso é tudo lixo, não pode nem dar uma espiadinha na fila do supermercado. Corta isso da vida!

- em vez de revistas que te dizem que tu é horrível e precisa emagrecer 5 kg em uma semana, procura blogueiras que sejam parecidas contigo. Procura as tuas referências, aquelas que te fazem bem, com as quais tu te identifica mesmo. Tu não tem que te adaptar, é o conteúdo dessas revistas e blogs que precisam ser adaptados pra ti!

- precisamos nos livrar também dessas pessoinhas tóxicas da nossa vida. Não que tu necessariamente precise mandar todo mundo tomar no cu (se quiser pode mandar também, pode ser bem libertador!) e se fechar em casa com teus gatos e dois amigos. Mas ninguém precisa aguentar "amigos" que fazem a gente se sentir mal. Pensa assim: quando tu fala com a pessoa x, tu fica mal contigo mesma? Tu começa a repensar as tuas escolhas e acha que cometeu muitos erros na vida? Hmm, essa pessoa não é legal pra ti. Larga ela. Não é só ex-namorado(a) que existe, tem ex-amigo(a) também.



- tira um tempo pra ti mesma e saiba aquilo que te faz feliz de verdade. Para algumas pode ser ir numa festa e dançar até às 5 da manhã, pra outras pode ser tomar um chá e ler um livro de poesia. Não importa, procura aquilo que faz sentido pra ti. Aqui não tem errado ou certo. Te dedica a ti mesma do jeitinho que tu quer.

- não te compara com ninguém. No segundo que um pensamento assim surgir na cabeça, joga ele fora. Quando tu pensar: ai, mas essa pessoa fica mais bonita com cabelo curto do que eu... Não! Tu vai pensar no lugar qualquer coisa legal sobre ti. E não me venha com "ah, mas não tem nada legal em mim", porque tu sabe que isso é mentira, é só não ter medo de se esforçar e admitir uma qualidade.

- faz um exercício físico que te agrade. Não com o objetivo de emagrecer, é pra se sentir bem, é pra perceber que teu corpo é lindo e merece amor. Se exercitar é dar carinho para o corpo. Pode ser qualquer tipo de exercício. Eu, por exemplo, odeio muito academia, me sinto sufocada naquele ambiente. Eu gosto de correr na rua, no horário que eu quiser, com a roupa mais velha que eu tenho, ouvindo as minhas musiquinhas, e depois ainda ficar sentada no parque pensando na vida. Essa é a minha rotina, ela funciona pra mim. Procura qual funciona pra ti. Sinceramente pra ti e não baseada no que outras falaram que é legal. Pode demorar pra achar isso, mas vai tentando e não desiste! Pode ser dançar, correr, caminhar, andar de bicicleta, patinar, fazer yoga, rebolar sozinha em casa, pole dancing, realmente qualquer coisa!

- faça da frase "não sou obrigada" o lema da tua vida! Porque, miga, tu não é obrigada!



- toda vez que alguém te contar alguma conquista própria, não pensa que tu também deveria ter essa mesma conquista. Quando alguém te contar que trabalha 60h por semana e ganha 15 mil por mês (exemplo bem de vidinha de profe), não pensa que as tuas horas a menos e os muitos mil a menos na tua conta estão errados. Pensa se o quanto que tu trabalha e o quanto tu recebe são decisões tuas e se te fazem feliz e fazem sentido nesse momento da tua vida. Ninguém precisa trabalhar o mesmo número de horas, ninguém precisa ganhar o mesmo salário.

- lembra que a propaganda da Dove é uma enganação. Tu não precisa escolher se sentir bonita. Beleza é muito subjetivo e não faz diferença nenhuma na vida. Não centra as tuas conquistas em se sentir bonita, mas se sentir bem, leve, tranquila com o que tu vê no espelho.

- leia mais sobre feminismo. Tu não precisa ser uma ativista, ter uma tatuagem do símbolo feminista no pulso (que nem eu, hihi), brigar com uzomi, discutir com a família no almoço de domingo. Tu pode te aproximar disso com mais calma, só pra tentar incorporar pra ti mesma algumas ideias simples, te livrar um pouco de padrões e lembrar o quanto tu realmente não é obrigada.

- faça da tua casa um lugar aconchegante. Atenção aqui: aconchegante não é o mesmo pra todo mundo. Eu gosto de casa cheia, quadros e posteres por todas as paredes, quinze mil luzinhas e abajures, muitas cores e um pouco de bagunça. Tu pode gostar de uma casa super clean, toda cinza, não tem problema, desde que isso seja realmente o que tu quer.



- compre menos. Parece uma dica budista, eu sei, mas é bem séria. Quando a gente compra muito a gente só se vê como consumidores, nosso valor é medido pelo que possuímos. E adivinha se isso acaba um dia? Claro que não, pode comprar 500 milhões de coisas pra sempre que nunca vai ser suficiente. Teu valor não tá nas coisas que tu possui, mas o que tu faz com elas. Quando a gente sai dessa piração de comprar sem parar, a gente toma decisões mais cautelosas sobre o que comprar e sabe melhor o que a gente realmente precisa. Um pouco de desapego material faz muito bem!

- o mais importante de tudo (e que tá presente em todos os outros tópicos aí em cima): saiba aquilo que te faz feliz. Parece bobo e simples, mas muita gente não conhece seus próprios gostos. Isso é importante desde que roupa tu vai usar, a que emprego tu vai ter e que tipo de relacionamentos tu quer. Quando a gente sabe o que quer, ninguém vai nos ameaçar dizendo que a gente devia fazer isso ou aquilo, porque a gente sabe que quer fazer aquela outra coisa ali. Por isso é importante também se livrar de padrões normativos, porque aí a gente se sente mais livre se quiser estudar até os 50 anos e não ter salário fixo, se a gente não quer ter filhos, se a gente quer continuar bebendo cerveja e sendo gorda mesmo. As tuas escolhas são só tuas, são lindas, são certas pra ti e é isso que importa!

Nada disso é simples, é uma luta diária contra o mundo e, especialmente, contra nossos próprios pensamentos cristalizados. Mas vale a pena. Realmente se amar e se valorizar é a maior conquista de todas, a maior revolução que existe! Eu acredito que esse amor próprio legal (não egoísmo e egocentrismo) pode mudar o mundo.

We can do it!


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