sábado, 5 de setembro de 2015

o problema da educação

Não, não é a mulher. Eu e alguns colegas professorxs ouvimos tantas vezes esse comentário: "o problema da educação é esse monte de mulher, é esse monte de pedagoga", "porque quando junta muita mulher começa a intriga, a fofoca e aí ferra tudo". Isso é um estereótipo. É generalizante.  É uma forma de reafirmar preconceitos sobre identidades de gênero. Precisamos combater. 


Consideramos muito importante desconstruir esse clichê amplamente propagado, inclusive nas próprias universidades que nos formam professorxs. O problema da educação não é O problema. São vários. E esse estereótipo que culpabiliza as mulheres - por uma histeria, incompetência, ignorância para realizar o trabalho educativo - é violento e aterrador. É um dos mais graves para os quais devemos estar atentas quando pensamos em educação - escolar, familiar, trabalhista.
As mulheres ocupam muitos espaços educativos e suas posições oscilam constantemente entre cuidadoras, protetoras, "mãezonas" e mediadoras de certos conhecimentos, de certas relações. Mas nossas posições vão além disso tudo. Estão para fora de várias relações que escapam aos clichês, aos esperados. Quando ocupamos a posição de mães protetoras, embarcamos em um jogo de discursos facilmente cooptados pelo machismo e preconceito. Quando não atuamos nesse sentido, somos rapidamente vistas como mulheres mais duras, mais "rígidas, firmes", muito parecidas com "a natureza masculina" - ou seja, caímos novamente nos enunciados encavados pelo machismo e pela ignorância.

Gostaríamos muito que o povo repensasse suas crenças no sexo biológico como fator determinante de caráter, honestidade, competência. Homens não são menos fofoqueiros, mentirosos ou intrigueiros. Mulheres não são histéricas, barraqueiras, choronas, cuidadosas e mais sensíveis. É tão rude ainda ter que escrever isso. É tosco ainda ouvir que é da natureza da mulher ser competitiva e dissimulada. Muitas mulheres juntas - na educação, na rua, num encontro - não te autorizam dizer que "fica impossível conversar", já que "mulher não cala boca nunca", menos ainda a cair nessa furada ignorante de dizer que mulher é menos racional e orientada. Se em algum momento tu pensou ou pensa assim, que mulher unida é um problema, recomendamos fortemente uma reflexão. 


Agradecemos a todas as mulheres que nos educam e educaram, que nos ensinam, inclusive, as posturas machistas e intoleráveis, que não desejamos assumir. Consideramos, cada vez mais, a importância do debate sobre a igualdade de gênero na educação, porque este sim é um dos problemas da educação: não as mulheres, mas o machismo, o preconceito, a opinião desinformada, a brincadeirinha inocente que reafirma e reifica discriminações e opressões. Vamos aprender, mulheres, que juntas, não somos menores ou piores, somos mais fortes. Não façamos conosco o ato violento de desmerecer nossas conquistas. Mulheres na educação são lindas e têm muito poder, então, vamos aproveitar a conquista desse poder para empoderar mais ainda nossas lutas e trabalho e para sufocar estigmas e silenciamentos. Vale conferir o texto da Maíra Kubík sobre igualdade de gênero na educação, juntamente com o manifesto pela igualdade de gênero.


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